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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Um buraco


Um certo colonial, pacato morador das colônias, viu-se contratado para abrir um buraco. Este, como senhor e solteirão, fazia trabalhos manuais. Diversos moradores, em meio às necessidades das propriedades, contrataram-no de forma esporádica nos serviços. O curioso: sabia fazer uma gama de atividades e não relegava tarefas.
O cidadão, como diarista braçal, mostra-se um trabalhador em extinção nas colônias. Eles, no cotidiano das localidades, fazem muitíssima falta. A legislação trabalhista inibe estes contratados ocasionais. Qualquer percalço pode acabar em sérios aborrecimentos e indenizações no ministério. Muitos preferem deixar crescer o mato a incorrer em aborrecimentos e transtornos trabalhistas. A inviabilidade econômica, de contratar por um e outro dia/serviço, não compensa o vínculo efetivo. A vantagem do profissional, no final do expediente, consiste em sair com o dinheiro na mão e sem maiores encargos/descontos.
O fulano, num determinado momento, aceitou em fazer mais outro “bico” (serviço). A tarefa consistia em abrir um buraco. Este, como finalidade, serviria para instalar algum poste. As antenas da internet ganhariam espaço no cenário colonial. As ondas da modernidade, como norma geral, aconchegam com rapidez na tranquilidade do interior. Os moradores querem as benesses das cidades e vivem em meio à calmaria das localidades. Dignidade e qualidade de vida tornaram-se uma obsessão.
O cidadão, nas lidas manuais, foi abrindo a cratera. A pá de corte e cavadeira manual, como artefatos, eram as ferramentas próprias à tarefa. Uma circunferência de meio metro cúbico de superfície foi ganhando a fundura de um metro e meio. O trabalhador, depois de duas horas (entre esforços e descansos), tinha concluído a nobre missão. O contratante admirou-se do belo trabalho e tamanho do buraco. Acertou, concluído a tarefa, o valor pré-combinado. Meia centena de reais pagou no ato. O camarada, na auto-reflexão e dom de brincadeira, externou a seguinte frase: “- Um buraco desses por cinquenta reais! Outros bem menores também custam esse preço em bem menos tempo!” Alguma gargalhada e nada de maiores comentários.
Valores de serviços variam conforme a especialização e procura. Cada qual gasta o seu suado dinheiro conforme melhor lhe convém. Uns ganham difícil, outros de maneira fácil a grana da sobrevivência. Dinheiro serve para atender aos nossos desejos e sonhos! Os pensamentos alheios inúmeras vezes nos surpreendem de forma deveras.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://nandapiovezani.blogspot.com.br/2011/02/cade-o-buraco.html   


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