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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A renovação

Um eleitor, num determinado município, queria ver a renovação do quadro funcional. Queria “ver fora aquela corja partidária”. Esta, a algumas boas administrações/gestões, mantinha-se “no cocho”. “Aves indigestas, como chupins”, no interior do serviço público. Bons salários para pouco trabalho; muita conversa para pouca ação; encargos de primeira e serviço de terceira qualidade... O contribuinte, no seu entender, paga muito imposto para péssima aplicação dos recursos.
O camarada, com a eleição, arregimentou amigos, familiares e parentes. “Vamos votar maciçamente na oposição. A necessidade de renovar dessa vez não podemos perder. Imagina mais quatro anos com aquela gente no governo e nos sugando” foi seu discurso. Participou, no embalo da campanha, de vários comícios e reuniões políticas. Inúmeras promessas, de melhorias, foram esplanadas nos encontros.
Conversas acaloradas e debates acirrados, entre oposição e situação, transcorriam nos cantos e recantos do município. Os temas comunitários ganharam a primazia das conversas informais. A empolgação e torcida, em boa dose, cedo constituiu-se em fanatismo. A eleição ocorreu no clima esquentado e vigilância acirrada nas urnas.
O dia adveio e eleições realizadas. Acusações e histórias mútuas, na surdina, sobre a compra de votos (com favores e mimos). A oposição finalmente venceu e a situação precisou “prepara-se para arrumar as malas”. As esperanças renovadas são de novas caras na gestão pública, enxugamento da máquina administrativa, projetos inovadores com melhorias, necessidades básicas como prioritárias... Governo novo, ânimo redobrado, sangue renovado... Uns três meses, após a posse, “alguma trégua com razão de engrenar a máquina”. O tempo transcorre e dura realidade dos fatos transparece.
O eleitor, muito das antigas caras, cedo enxerga no quadro do serviço público. Os quadros de carreira do funcionalismo mantêm-se na ativa. Inúmeros partidários da coligação, fanáticos eleitores e parceiros dos comícios, ganharam cargos de confiança. Vários conhecidos e parceiros “arrumaram algum graúdo osso”. A empolgação revelou sua explicação. Outros antigos adversários, ferrenhos adeptos da situação e inimigos declarados da oposição, viraram partidários do novo governo (“uns belos vira casacas”).
Uns, com ousadia, colaram adesivos, de última hora, nos seus veículos (como tivessem sido da oposição). Velhos partidários, da campanha da vitória, começaram desavenças homéricas e bandearam-se à oposição. Facções derrotadas aproximaram-se do governo e ganharam alguma secretaria... A dinâmica política desconheceu lógica e norteia-se pelos propósitos do erário.
O cidadão conheceu facetas da realidade política. Um campo minado às pessoas de boa formação e índole. Um mimetismo corrente para os aproveitadores e oportunistas! Estes, de quatro em quatro anos, adaptam-se e readaptam-se as gestões (com razão de levar alguma grana dos volumosos dividendos públicos).  A ideologia ostenta-se um belo discurso de campanha, porém cedo cai por terra (em função das necessidades do cotidiano). Entra e sai governo, com algumas poucas exceções, continua a lambança. A preocupação escassa de racionalizar a máquina e oferecer o maior volume de bons serviços aos contribuintes.
O servidor, no cotidiano, agrada uns e desagrada outros. Os contribuintes, no entra e sai dos governos, paga os ônus das festanças e gastanças. Um bom ou ruim governo desagrada uns e contenta outros. A oposição cria brigas e intrigas e a situação canta conquistas e vitórias, porém no fundo “é farinha do mesmo saco”.  A política, a todo momento, surpreende com escusas histórias e desperdício de recursos.
                                                                                       
Guido Lang
                                                        “Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=495017327215593&set=a.473768909340435.135020.473629512687708&type=1&theater 

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