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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O churrasco impróprio



         Um  certo proprietário, com o abandono dos filhos do meio colonial e a propaganda do sucesso financeiro na silvicultura, encheu as terras com mato. O eucalipto, junto a alguma acácia, tornou-se rei numa magnífica terra plana. Um solo arável e fértil, próprio à mecanização (agrícola) e possibilidades de três safras (anuais), para produzir madeiras. A silvicultura, no máximo, uma colheita a cerca de sete a dez anos (investimento com retorno monetário muito demorado).
Um colega agricultor, com variado implemento e maquinário, disse-lhe: “- Não faça essa loucura! Deves abster-se de seguir os receituários do pessoal com terras nas baixadas (encharcadas/úmidas) e morros. Pensa em criar algumas vacas/terneiros. Eles dão carne/leite ao abastecimento familiar e urbano”. O proprietário, no contexto da empolgação (com a onda do eucalipto), pouco ouvido dispensou. O princípio dominante, na época (entre os anos de 1980 a 2000), consistia em “deitar na cama e deixar o pau crescer”. Um mato esbelto e saliente, na sua outrora área arável, cedo formou-se no contexto colonial. Uma vigorosa plantação de eucalipto, em meio à comuna, acabou vislumbrada (de longa distância por forasteiros e moradores).
Uns anos transcorreram e a fartura de madeira tomou corpo/sentido. O carvão e madeiras (em metro) tiveram baixo preço. Dificuldades de colheita e falta de mão de obra tomaram vulto. Ninguém almejava colher. Eventuais interessados queriam avolumar fortunas (“desejam ganhar horrores”). Os dispêndios, com contratação de cortadores e maquinário, consomem as eventuais possibilidades de lucros. Estes, diante do novo quadro, nem custeiam aos encargos do maquinário de arrancar as cepas/tocos. O eucalipto cria tocos e inviabiliza as possibilidades de mecanização. Fica difícil e oneroso reaver as outrora áreas agrícolas e devastar o mato.  Ele, com a brotação massiva, cedo retoma o cenário original. A legislação ambiental coloca empecilhos em reaver espaços agrícolas e, no final, deixa-se de gerar renda familiar e tributos.
O proprietário, depois de uns anos, retomou a conversa com o plantador. Sentia-se profundamente arrependido por não ter dado ouvidos ao conselho. Deixou de criar terneiros (carne aos seus preferidos churrascos), plantar milho (à silagem), soja (à exportação e rações)... Deixou de faturar/ganhar boas somas (com a carne, leite e soja “as nuvens”). O rural, numa conversa informal, reforçou o arrependimento: “- Precisas, no momento, assar eucalipto como carne! Adoras tamanho o teu churrasquinho de final de semana e paga exorbitâncias às carnes. Como vais derrubar todo esse mato? O lucro não cobre os dispêndios de máquinas? Imagina essa formidável área tomada de milho, soja, trigo? Quê capital?”. O cidadão sentiu remorsos da outrora precipitação e impróprio investimento.
Áreas próprias à mecanização inconvêm reflorestar. Certas atitudes precipitadas causam arrependimentos e remorsos. Os negócios agrícolas oscilam muito aos sabores do contexto das oscilações econômicas. Algumas concepções ambientais merecem uma revisão de legislação.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://peladadealdeia.wordpress.com/2010/06/22/churrasco/

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