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sábado, 3 de novembro de 2012

Uma localização imprópria


  

    Um certo colonial, ao longo da estreita e comprida propriedade, resolveu criar abelhas. Um passatempo, após anos de trabalho urbano (em ambientes de agitação, barulho e egoísmo).
   Procurou “semear o espaço com caixas iscas”. Apanhou diversos enxames e foi constituindo sua atividade econômica. As comunidades, em pouco tempo (em função da abundância de natureza), tornariam-se muitas e vigorosas. As abelhas, em função das proximidades das áreas de plantio, tornaram-se uma ameaça e inconveniência aos afazeres da vizinhança.
  Constatou-se, em poucos anos de manejo, uma singela diferença. Aquelas comunidades, instaladas no interior dos matos (lugares mais remotos), mantinham-se robustas e perenes. Difícil extinguir-se alguma! Aquelas caixas, localizadas próximas às divisas, viam-se adoentadas e ceifadas (com extrema facilidade). O manejo de venenos, em épocas de plantio, deixava num marasmo os insetos. A aplicação de herbicidas certamente fazia diferença. O uso de eventuais inseticidas terminava com as comunidades.
   Acreditou-se, na mera casualidade, com razão de não intrigar e desconfiar da vizinhança.  A solução, a partir daquela aprendizagem, consistiu em transferir as comunidades (sobreviventes) para o interior dos matos (ambientes naturais). Distantes das ameaças humanas e “prato cheio” às formigas.  Conclui-se que cada espécie tem um habitat próprio. O domesticador, de quaisquer empreendimentos agrícolas, precisa adequar-se ao contexto (com vistas de ampliar as chances de sucesso).         
   As diferenças e intrigas de uns, cedo ou tarde, respingam nos inocentes. Os próximos conhecem-se unicamente pela fronte e dificilmente pelo coração. O sucesso alheio pode incomodar a outros. O indivíduo, na proporção de conhecer o íntimo (de muitos racionais), cedo admira o comportamento dos ditos irracionais. Boa vizinhança, nos interiores, conquista-se sendo uma exemplar vizinhança.

Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://quadrinhosantigos.blogspot.com.br/2011/04/extincao-das-abelhas-e-o-fim-da.html

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