Translate

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A onda verde

 
 
  As baixadas, chapadões e encostas, ao longo dos anos de colonização, foram conquistados a ferro e fogo. As famílias cresciam nos ambientes coloniais. A necessidade de terras tonou-se necessária. A solução, com a divisão sucessiva dos lotes (iniciais), foi “subir as encostas e morros”. Cada geração, nestas cinco a seis de exploração, procurou devastar (um pouco com vistas de novas lavouras). Roçados significou aproveitar o húmus original (para cultivar abóbora, aipim, batata, hortaliças, feijão, milho...). Resultado: pouco sobrou da floresta original. Pode-se, em termos gerais, falar em “ilhas”(capões) na situação das propriedades rurais.
  A mecanização, com a conquista do Brasil Central (cerrado), trouxe acentuadas mudanças. Áreas de morros, com o trabalho animal e braçal, não puderam competir com a produção agrícola (altamente mecanizada). Somou-se o rigor duma legislação ambiental (de proteção). A solução, para não abandonar o patrimônio familiar e ajuntar-se aos cortiços (urbanos), foi investir na silvicultura. Diversas famílias, das culturas anuais de subsistência, partiram à exploração e industrialização da madeira.
  Inúmeros jovens abandonaram o ambiente rural e empregaram-se no trabalho assalariado. Uns poucos mantiveram-se firmes no torrão comunitário e tradição familiar. A extração de madeira, de acácia (negra) e eucalipto, tornou-se o ganha pão. Caminhões e carretas, de carvão e lenha, vêem-se escoados continuamente na direção de grandes empresas e mercados. Fornos de carvão, as centenas no interior dos matos, pipocam nas localidades e propriedades. A madeira, sobretudo nas áreas acidentadas, conhece a intensa combustão. A fumaça e os trilhos (do acesso), no interior de áreas reflorestadas, denunciam unicamente a produção do carvão. Alguns locais abrigam conjunto de unidades (assemelhança de fábricas). Veículos, de distâncias acentuadas, podem trazer matéria-prima (madeira em metro à queima) e escoar o fruto das queimadas (carvão vegetal).
  Criou-se, com a necessidade de madeira, um cenário ímpar. O viajante, do topo dos maiores morros - a partir das estradas gerais (de chão batido), aprecia a visão panorâmica. Um verde escuro cobre baixada e encostas (em localidades como Bela Vista e Chapadão/Brochier; Linha Brasil e Santa Manuela/Paverama; Linha Catarina e Germana/Teutônia/RS). O eucalipto, com alguma acácia, domina os cenários coloniais. Áreas íngremes: chama atenção a ousadia pela conquista dessas terras. Os donos, como "formigas cortadeiras", devastaram espaços do ambiente original e introduziram plantas exóticas. Projeta-se o sacrifício de extrair os dividendos desses investimentos. Um trabalho de gigantes em meia ao tremendo esforço físico e ousadia com máquinas. Quê a cobiça e a necessidade do dinheiro não fazem? Florestas rejuvenescidas, dissiminadas pelas localidades, onde desatentos e néscios chegam a perder-se nos interiores; proprietários, nalguma distância maior, ignoram divisas das suas terras.
    O cenário, comparado as outroras roças, descortina uma realidade inimaginável. As culturas anuais, de algumas décadas, cederam o espaço ao reflorestamento. A ativa e modesta mão do homem, com coragem, ousadia e trabalho, produziu um cenário inovador. Anônimos trabalhadores, cada um com a sua parcela e o pouco de cada dia (de acordo as possibilidades de produção), inscreveram uma odisséia na história da colonização. O eucalipto, como árvore rei (opulento e dominador) - nos ambientes das outroras roças, mantém-se fonte de renda para milhares de descendentes dos pioneiros.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
 
Crédito da imagem: http://bionarede.blogspot.com.br/2011/12/eucaliptos-viloes-ou-herois.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário