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domingo, 28 de outubro de 2012

As lamúrias dos azarados


   

    As pessoas, no cotidiano da vivência, reúnem-se por alguma afinidade. Estas são as mais diversas. Salientam-se, a título de exemplos, condições econômicas, idades, parentescos, profissões, vizinhanças... O certo relaciona-se em querer estar entre grupos/tribos (como ser social).
      Aconteceu, numa certa localidade colonial, ajuntar-se três moradores. Estes lamentaram o infortúnio na atividade rural. O beltrano era criador de galinhas; o fulano cuidava de porcos e sicrano ocupava-se com as vacas. Os três queixaram-se do impróprio. Entendiam-se deveras dedicados, porém azarados. O sucesso da vizinhança, de alguma maneira, lhes importunava. Os copos de cerveja acentuavam as conversações e choradeiras! Outros, enfurnados no ambiente da venda em meio ao baralho, não deixaram de escutar os queixumes. O comerciante, precisando do tipo de cliente, manteve-se na aparente imparcialidade. O interessante relacionou-se as diversas conclusões extraídas dessa conversação.
    Os autores foram pensando as razões dos seus insucessos pessoais. Procuraram daí expor as causas desses fracassos na atividade rural. O primeiro dizia-se criador: “- As galinhas dão pouca carne e ovos; penso até em parar na criação”. O segundo, suinocultor, deparava-se com animais raquíticos e limitadas possibilidades de abate; cogitava em diminuir o número de matrizes. O tambeiro via as vacas magras pastarem no potreiro; leite, muito pouco diante da falta de cuidados e trato especiais. Os três, em síntese, pensaram: “- Os baixos preços não compensam toda a dedicação e demora”. As criações/ negócios asseguravam modestos dividendos, todavia nada de maiores sonhos de melhorias de vida.
    Os problemas, na prática, consistiam no desleixo com as criações. As aves, como galinhas caipiras, dormiam em árvores. As perdas, com a ousadia das raposas, eram grandes. O milho mal conheciam como trato (ração não passava de esporádica sobremesa). Os porcos recebiam mísero pasto verde e alguns esporádicos tubérculos. Animais pareciam atolados em meio aos seus excrementos e restos vegetais. Água naquele estado turvo em função de dejetos... As vacas degladiavam-se para sobreviverem na grama natural (potreiro dominado pelo brejo). Algumas forragens esporadicamente degustavam. A silagem “ostentava-se algum alimentos dos deuses”... Os criadores, na prática, queriam distância de maiores obrigações e trabalhos. Desejavam atender as tarefas conforme as conveniências dos seus horários. O propósito maior era a continua extração e nada de maiores reinvestimentos. “A sorte parecia-lhes somente morar na concorrência/vizinhança”. O bondoso Deus, na sua compreensão, mostrava-se inclemente com eles, porém tão benigno com outros.
    O camarada precisa cuidar da própria sorte e daí solicitar as bênçãos divinas. Deus abençoa quem também se auxilia (com esforço, inteligência e trabalho). Uns, diante do próprio descaso e desleixo, não tem como aconselhar e ajudar! A escola de vida tem sido o melhor professor para desleixados e teimosos.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://aryadnehemmyly.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html 

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