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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A aprendizagem de uma técnica


  

  Os imigrantes, depois de semanas de espera nos portos e casas de imigração, foram conversando, observando e assimilando técnicas agrícolas do Novo Mundo. Alguns locais deram-lhes dados como enfrentar a fechada mata. Esta, de horizonte a horizonte no contexto das picadas (localidades), estendia-se “a semelhança dum tapete verde” ao longo das baixadas e morros (de preferência próximo aos cursos fluviais).
   Equipes, no ínterim do compasso de espera dos imigrantes pelas propriedades, penetravam floresta adentro com razão de delimitar lotes. Caboclos, com amplos conhecimentos do espaço florestal, auxiliavam os agrimensores na nobre tarefa. Receberam a incumbência, depois de delimitados as propriedades, de conduzir às famílias as respectivas terras. Os caminhos, atoleiros e estreitas picadas, viram conduzidos os elementos europeus. Eles, ao novo meio, tinham muito a conhecer e experimentar com vistas de adaptar-se a realidade sul-americana (constituir um conhecimento empírico novo).
    A primeira grande lição, como técnica agrícola, relacionava-se a conquista da terra arável. Como dominar essa floresta de aparência impenetrável? Árvores centenárias para derrubar e conquistar o solo. Entrou aí o especial ensinamento: a coivara ou queimada. Os portugueses tinham-na assimilado com os elementos indígenas. Alemães apreenderam-na com a descendência destes.
     Os colonos, a base de facas, facões, foices, machados e serras, tomaram-se a tarefa de aplicar a técnica. Ceifou-se, numa primeira roçada, a vegetação rala; partiu-se, em seguida, a derrubada de arbustos e árvores. Cada dia, num trabalho incessante e maçante, um pouco de conquista. Deixou-se secar uns dias a vegetação. O fogo daí ganhou a incumbência de processar a limpeza generalizada. Ficaram, após a queimada, madeiras e sobras de galhos. Estes, num passo subsequente, ganharam o ajuntamento e nova queimada. A preocupação, com a destruição da milenar camada de húmus, pouco havia. Queria-se áreas limpas para cultivar as culturas anuais e obter magníficas safras.
    A prática, nas décadas subsequentes a colonização, jamais foi abandonada. Ela, nos desfechos do inverno e primórdios de primavera, toma lugar nalguns lugares restritos nas colônias. A legislação ambiental inibe/proíbe (em função dos prejuízos ao solo, porém a prática subsiste). Pode-se, a longas distâncias, apreciar o alevantar-se de nuvens de fumaça (nas vésperas de chuvas e finais de semana). Os usuários mantêm todo um conhecimento e cuidado com ventos. Limpam-se áreas próximas aos locais de queimadas (com razão do fogo não propagar-se). Esporádicos desastres, todavia sucedem-se. Poupam-se trabalhos de semanas com uma modesta ação do fogo.
     Inúmeros são os relatos das queimadas incontroláveis nas colônias. Qualquer colono sabe que fogo é uma arma, portanto, todo cuidado é pouco. Queimadas, um flagelo das beiras de estradas e parques naturais, lançam uma ideia dos estragos e do poder do fogo. 

Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://vivirefletindo.blogspot.com.br/2010/09/queimadas.html

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