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sábado, 22 de setembro de 2012

Uma tradição centenária


     Os imigrantes, enfiados no interior da floresta, obrigaram-se a estudar as espécies. Conta-se, pela tradição oral, que consumiam as frutas que as aves digeriam com razão de não comer inconveniências. O aprendizado cedo despertou o interesse excepcional por algumas espécies nativas, que faziam “a festa da fauna”.
     As espécies, como amoras, araticuns, cerejas, guabijus e guabirobas, foram poupadas dentro das possibilidades da devastação generalizada. A qualidade das frutas, para o consumo próprio e manutenção de espécies, via-se excepcional, no que cedo ganharam espaço nos pátios e pomares. Algumas, com bom sombreamento, mantinham-se árvores ornamentais, quando, no rigor do verão, podia-se sentar para conversar e receber visitas. As famílias, nas épocas próprias, podiam degustar alguma fruta silvestre, no que costumeiramente “fazia a alegria da gurizada”. Os apicultores improvisados viam a dádiva divina quando os insetos tinham oportunidades de produzir mel. Aves, como angolistas, galinhas, gansos, marrecos, perus e pombos, podiam degustar sobras. Algumas famílias, por tradição de gerações, mantinham a prática de manter algumas árvores especiais de guabijus e jabuticabas. Elas eram marcas de assimilação, de princípios ambientais da América, quando, na época da frutificação, bandos de araquãs e sabiás invadiam os pátios nas caladas dos dias.
     Os moradores, no interim da labuta, davam-se o tempo de assistir o espetáculo das aves assim como degustar uns bons frutos. Uma singela alegria, junto a outras, do espetáculo da vida rural, que tem suas dificuldades e também seus encantos. Uns poucos, com a maior consideração, mantêm ativo a cereja, jabuticaba e guabijus nos pátios na proporção do espaço disponível permitir.
     Princípios e valores de uma época subsistem na discrição do quotidiano, quando guarda-se reminiscências deste passado ímpar e mantêm-se resquícios da tradição. Algumas jabuticabas e guabijus subsistem ao tempo, enquanto os reais cultivadores, na sua maioria, “jazem no silêncio das suas tumbas” e o “pó voltou ao pó”.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileira)

Crédito da imagem: http://www.panoramio.com/photo/18476018

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