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domingo, 23 de setembro de 2012

O teste da vocação agrícola


     Qualquer profissão encontra gente de todos os interesses e tipos, quando levam ou não jeito à atividade econômica. Um fato idêntico ocorre no meio colonial, quando uns seguem o trabalho por gostar ou o seguiram em função da mera tradição rural familiar. Faltou-lhes oportunidade maior para abraçar profissão mais rendosa. Olhos atentos, apreciando as entrelinhas dos estados da criação, pátio e plantações, vislumbram o espírito vocacional.
   Os vocacionados, gostam daquilo que fazem, encontram meios de inovar o sistema produtivo, tentam aproveitar ao máximo as áreas disponíveis, diversificam criações e plantações, fazem “corpo firme” para produzir, vesse-os continuamente no batente. O desanimado pouco caso faz das coisas e do estado de apresentação das instalações e moradias. Costuma labutar com razão de assegurar a subsistência, no que carece de ambição maior. A diferença, a longa distância, permite vislumbrar o cenário, enquanto o primeiro mantém o lote cultivado e produtivo; o segundo tomado pelos brejos e matos (com ilhas de culturas esporádicas).
     Um detalhe marcante, a primeira vista, sucede-se com o esterco (de aves, gado e porcos). O caprichoso e dedicado mantêm uma contínua falta do material, quando não o consegue acumular. Precisa-o para adubar áreas de plantação, quando poupa dispêndios volumosos com a compra dos adubos. As estrumeiras costumeiramente andam vazias e este lamenta o fato. O desestimulado e desleixado acumula quantidades, que perdem-se na ação das chuvas e ciscar das aves. O produto dificilmente ganha uma destinação agrícola, quando encaram-no como “tremendo empecilho”. Várias propriedades, na primeira oportunidade, salientam-se neste detalhe, quando uma “semi-montanha” formou-se nos fundos das instalações.
     O colono esclarecido, conforme a tradição colonial, sabe que labuta com as bênçãos divinas, quando dá uma real destinação aos dejetos animais. O solo produz, todavia quer também sua retribuição para continuar fértil. O maior patrimônio colonial não pode ser exaurido em função do ônus de recuperá-lo. O indivíduo, para extrair reais conclusões, precisa observar muito mais os detalhes e entrelinhas das situações do que as falas e os enfeites. Os reais fatos dificilmente conseguem esconder os muitos detalhes.

Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileiro)

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