Translate

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A velha guabiroba



     Centenária árvore perdida entre matos e potreiros tu ostentas uma formosura ímpar! Mostra-te uma relíquia em meio à localidade, que nos abunda de plantas. Abrigo seguro de inúmeras aves e parasitas, quando folhas, galhos e ramos oferecem um esconderijo excepcional. Assemelha-se a sentinela do espaço, quando, nas décadas de colonização, visualizaste acontecimentos ímpares.
     Guabiroba centenária! Vistes antes de 1868 os índios guaianazes/caingangues abrigarem-se em tuas sombras. Apreciaste as feras do mato no contexto da várzea. Homens e estranhos, da distante Europa Central e velhas colônias de São Leopoldo, incursionaram pelo teu refúgio milenar da Floresta Subtropical Pluvial. Enxergaste estes abrindo picadas e medindo lotes; achegaram-se famílias e ceifaram tuas co-irmãs. Viste-te, pela sorte da ocasionalidade e graças divinas, poupada do extermínio, quando a floresta cedeu espaço a potreiros e roças. Os currais de gado e porcos, bichos estranhos na América, ocuparam o ambiente, quando das tuas frutas saborearam um gosto agradável. Pedreiras, nas tuas cercanias, foram exploradas, no que cercados (muros de pedra), como estranhas “lombrigas”, cortaram e delimitaram o cenário. A colonização avançou, o progresso chegou e advieram desentendimentos.
     Os maragatos (adeptos do federalismo), entre 1893 e 1895, procuraram tuas sombras, quando, “frutos da rapinagem” (roubos) abateram animais nas tuas proximidades. Colonos e pica-paus (adeptos do republicanismo) enxotaram-nos e a aparente normalidade retornou as paragens. O gado, por decênios, pastou tranquilo, todavia adveio a derrocada do minifúndio diversificado de subsistência. O comércio de madeira e indústria de carvão veio trazer a ganância monetária, quando madeira de lei, nas cercanias, viu-se extraída. Os temores do corte sucederam-se, mas “um anjo protetor” novamente salvou-te do infortúnio. Um novo dono comprou a área e a edificação de açudes sucedeu-se; eucaliptos introduzidos como cultura reflorestada rivalizaram com a tua opulência. Estes parecem esconder parte do teu esplendor, que, no entanto, não abafa os nobres dons.
     Continua esbelta e protegida! Seguirás reinando por anos como exemplar ímpar da espécie e fornecendo milagrosas sementes à preservação da espécie. Os novos donos admiram-te e respeitam tua exuberância. Rogo ao piedoso Deus que continua como símbolo do patrimônio ambiental-florestal!

Observação: A planta situa-se no lote 28, margem esquerda, da Picada Boa Vista (atual Boa Vista Fundos/Teutônia/RS).
           

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/gabiroba/gabiroba.php

Nenhum comentário:

Postar um comentário