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terça-feira, 24 de julho de 2012

O HARRY E O GUIDO LANG

Alceu Feijó

Harry Roth, possivelmente um nome esquecido por grande parte da população de Novo Hamburgo/Rio Grande do Sul/Brasil. Mas foi um cara que incentivou o prefeito Ritzel, o Eugênio Nelson, a criar uma biblioteca para a cidade. E foi ele quem realmente consolidou o empreendimento, aproveitando um casarão que existia bem na frente da antiga prefeitura, construída por outro prefeito esquecido, Plínio Moura. Voltando ao Harry, o prédio antigo, que foi construído antes da emancipação, estava destinado à demolição. Não foi demolido e o prefeito Ritzel restaurou e ali foi fundada a Biblioteca Municipal, administrada pelo autor da ideia, Harry Roth. Com seu falecimento, foi denominada Biblioteca Harry Roth, numa justa referência ao seu idealizador.
É possível que a minha memória não esteja relatando toda a origem dos fatos. Se me enganei, peço perdão antecipado, mas acho que estou certo. Hoje a biblioteca se chama Machado de Assis, que nunca esteve em Novo Hamburgo, nem sabia onde ficava a nossa cidadezinha no contexto mundial de sua enorme cultura e exemplos que ofereceu ao Brasil. O Harry Roth conhecia e vivia em Novo Hamburgo, mas seu nome foi postergado por uma entidade nacional.
Bem, além da Biblioteca Machado de Assis, Novo Hamburgo conta com outra pequena biblioteca, mas com grande manancial de consultas, instalada no terceiro andar do Centro de Cultura, sala 33. E quem dirige este pequeno repositório de informações inéditas é o escritor Guido Lang, semelhante ao Harry Roth, magrinho e também usa óculos. Falei escritor porque tem mais de dez livros publicados anonimamente. 
Conheci o Guido quando recentemente me solicitou para identificar personalidades em antigos álbuns de fotografia e o fiz com grande satisfação, pois além de estar ajudando ao local tão importante, revivi muitos momentos, vendo fotografias colhidas por mim, das quais nem me lembrava mais. Porém, durante minhas idas ao relicário do Guido, fiquei sabendo muito rapidamente que ali existiam exemplares encadernados da Folha da Tarde e do Correio do Povo. Com a ideia de Fátima Daudt, vice-presidente de Serviços da ACI, em homenagear os pioneiros calçadistas que foram em 1960 a Nova York. Solicitado a colaborar, fui ao Guido Lang para consultar a sua coletânea. Surpreso ao ver coleções encadernadas da Folha da Tarde desde os anos 50 até 80, fui informado de que o material tinha sido descartado pela Biblioteca Machado de Assis e já estava na carrocinha de um papeleiro. Guido não teve dúvida, pois sabia o valor do material e o resgatou pagando 800 reais. Vejam só o que ele fez: doou para o município o acervo gratuitamente. Foi neste momento que eu me lembrei de Harry Roth, que foi tão útil ao município e não tem nome de rua num bairro operário. Espero que o gesto de Guido Lang, que não está pedindo nada, um dia seja lembrado com uma plaquinha de bronze ou zinco na porta 33 da Semec.

Alceu Feijó é jornalista
Texto publicado no "Jornal NH", p. 18
Sexta-feira, 06 de janeiro de 2006


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