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quarta-feira, 12 de junho de 2019

O prédio da Estação Ferroviária de Campo Bom


Guido Lang

A cidade de Campo Bom mantém uma esdrúxula construção, que salta aos olhos dos forasteiros. Estes, nas suas passagens de carro ou linhas de ônibus, costumam interrogar sobre a razão daquela edificação. Esta trata-se do atual prédio da Biblioteca Pública Municipal Dr. Liberato, que ostenta, junto as construções da Antiga Igreja Evangélica e a Sociedade 15 de Novembro, uma riquíssima trajetória. Os antigos unicamente ainda memorizam fatos notáveis, que, desde 1935, foram sucedendo-se na notável obra.
A Antiga Estação Ferroviária de Campo Bom, a partir de 1934, tomou corpo, quando mobilizou a elite econômica e monetária da então pacata vila distrital. O lugarejo, num acelerado processo de industrialização, necessitava de uma nova estação ferroviária, na qual haveria espaço para a circulação de mercadorias e pessoas. A casinha do trem existente era muitíssimo pequeno para atender as novas necessidades, quando moradores e produtos, em meio à espera dos comboios ferroviários, poderiam ficar expostos a ação das intempéries do tempo. Os empresários, liderados por Alfredo Blos, Arno Kunz e Emílio Vetter, tomaram a dianteira com a razão de edificar um novo prédio.
Os órgãos públicos, como de práxis, mantiveram carências de verbas, que pudesse custear as despesas do empreendimento. Os empresários, sobretudo o industrialista Emílio Vetter, abraçaram partes da obra comunitária, quando doaram terreno e tijolos. Pode-se dessa forma, edificar um prédio inovador que contrastava no contexto das fábricas e residências da vila camponense. Ele também foi o primeiro prédio comunitário, que ostentava dois pisos e, à distância, mantinha uma magnitude e opulência. A construção, no contexto da ferrovia, foi considerado um protótipo, que inspirou outras semelhantes edificações. As vantagens decorriam do conforto oferecido assim como a existência de uma moradia “ao ecônomo ferroviário”, obediência aos requisitos de higiene e a presença de um poço artesiano.
A inauguração transcorreu no dia 11 de abril de 1935, quando autoridades e moradores afluíam ao grandioso acontecimento. A vila parou em função da festa, quando não faltavam discursos, música e confraternizações. O cidadão Emílio Vetter, para marcar a conquista comunitária, mandou abater três cabeças de gado, quando comeram um churrasco, de forma gratuita, todos os moradores do distrito. Estes, na sua totalidade, foram beneficiados com a concretização da velha aspiração da comunidade, que, a muito, tinha sido reivindicada pelos moradores.  Um cartão de visitas, portanto, criou-se no lugarejo, que, nos finais de semana, reunia inúmeros campobonenses. Estes afluíram à Estação Ferroviária com a finalidade de inteirar-se do movimento de passageiros, quando não havia maiores opções de lazer.
A desativação da Linha Férrea, em 1963, veio sepultar um capítulo épico, gerando nova função econômica e social ao prédio. Este, depois de algumas adaptações, tornou-se a sede da Prefeitura Municipal de Campo Bom/RS. O afluxo de contribuintes veio trazer-lhe uma gama de indivíduos, que vinham satisfazer exigências burocráticas. As tradicionais sacadas, no lado sul e norte, foram transformadas em salas, quando ampliou-se as reais funções de uso. Alguns prefeitos, como Evaldo Dreger, Osmar Alfredo Ermel, Werner Ricardo Bohrer, Nestor Fips Schneider, Élio Erivaldo Martin e Karl Heinz Kopittke, dirigiram os destinos municipais a partir do local. O espaço, a partir do aumento dos serviços públicos em função da acelerada urbanização, tornou-se pequeno, quando, em 1988, mudou-se o local da administração municipal.
A construção, nesta época, ganhou algumas adaptações e esparsas melhorias, quando tornou-se o espaço da Biblioteca Pública Municipal “Dr. Liberato”. O acervo literário municipal pode ser abrigado no seu meio, quando manteve sua vocação comunitária. Um afluxo contínuo, de apaixonados leitores, afluem no seu interior, quando procuram aprofundar pesquisas, inteirar-se do “cotidiano jornalístico”, solicitar empréstimos literários... Um punhado de alunos e professores visita as dependências, quando participam dos diversos projetos culturais oferecidos pela biblioteca. Umas exclamações ou perguntas comuns e tradicionais costumam desabrochar na boca da criançada: “Que estranha construção! Olha o prédio diferente! Veja edificação esquisita!”
Os funcionários, depois de anos de labuta no espaço, depararam-se com sensações estranhas, quando, em momentos, desfilam no seu interior. Eles parecem ouvir barulhos esquisitos, que advém de algumas salas. Eles descrevem acontecimentos sucedidos com indivíduos, que a muito descansam no repouso eterno. Estes, talvez espíritos de finados, parecem adorar a histórica construção, que, a cada quarto de século, ganha novas atribuições comunitárias. Alguns trabalhadores, em função dos fatos e ruídos, interrogam-se das razões daqueles enigmas e mistérios, que apavoram supersticiosos e desafiam a lógica da compreensão humana. Alguns sugeriram a bênção religiosa, enquanto outros a realização de orações (em favor da paz e sossego dessas almas). Os descrentes materialistas parecem indiferentes aos sucedidos, quando carecem importunar-se com imaginações.
O histórico e tradicional prédio, com presença marcante na realidade comunitária, mantém-se uma presença marcante, quando impõem-se pelo estranho estilo arquitetônico e salienta-se pelas múltiplas funções utilitárias.
Antiga Estação Ferroviária de Campo Bom, portanto, mantém-se significativa, quando apesar do estado de preservação, escreves uma rica trajetória e marcastes a vida de uma infinidade de moradores. Segue a tua gloriosa sina, quando “ostentas atendimentos públicos e preservas histórias dos mistérios da criação”.

Autor: Guido Lang.
Fonte: Jornal O Fato, número 1161, dia 08/08/1997, página 06.

Crédito da imagem: https://www.guiacampobom.com.br/campo-bom/pontos-turisticos/antiga-estacao-da-linha-ferroviaria

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