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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Os elogios da bonança




Uma caneleira preta vivia seus dias de esplendor e glória! Admiradores e bajuladores não lhe faltaram nos dias de opulência e saliência! Cada próximo pedia aconchegos e mimos!
A árvore, localizada no interior do brejo e margem do mato, ostentava excepcionais folhas, frondosos galhos e magnífico tronco. Quaisquer viventes, na proporção da passagem, reparavam a exuberância e magnitude.
Uns forasteiros chegaram a comentar: “ - Que ímpar caneleira essa! Por que não a derrubam para fazer guias, sarrafos ou tábuas?” O extrativismo vegetal visto como mera possibilidade financeira! A ganância despertada a serviço da obtenção de dinheiro!
Aves, em nome da diversão e proteção, procuravam refúgio no interior da copa. Estas, nos vôos e sobrevôos, viviam a defecar pelas cercanias dos galhos e tronco. O discurso, em meio às justificativas dos atos, consistia numa aparente gratidão (para adubar as volumosas raízes).
Algumas miúdas sementes, inseridas como excrementos, passaram a germinar e trazer o germe da concorrência e morte! A caneleira, em meio aos elogios e euforia, esquecia-se da astúcia e esperteza dos humildes!
O vegetal, com tamanhos admiradores e referências, parecia acreditar e agradecer pelas muitas bajulações e conversas. Estas, aos próximos, dizia: “- Nenhuma outra planta a minha altura para fazer sombra!”
O vento, com a proximidade da chuva, certo dia avolumou-se no horizonte. Este, como força da movimentação do ar, abateu-se numa forte e repentina rajada. Dois grossos galhos, de supetão, viram-se danificados e derrubados!
As feridas abriram uma tremenda clareira. As miúdas plantas, germinadas a partir das sementes, cresceram e começaram a fazer concorrência. Os aventureiros valeram-se da oportunidade para destroná-la do nobre posto. Esta, em poucos anos, vira-se condenada e sufocada!
Os autoelogios costumam ostentar cheiros impróprios. A bonança e opulência atiça a ganância. Quaisquer excessos inserem o potencial das desgraças e distorções.

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://www.riodosul.sc.gov.br

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