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sexta-feira, 8 de março de 2013

O segredo da verdade


A verdade anda a passos lentos e sua reputação nem sempre é das melhores. Uns falam dela  “andar a pé na proporção da mentira andar a cavalo”. Poucos alimentam-a em estima e consideração como princípio e valor. Muitos valem-se dela na proporção da vantagem e descartam-na na dimensão da desvantagem. Ela, aos desonestos e corruptos, aterroriza e contrasta com a mentira. Poucos, ao ouvi-la, agradecem pela sinceridade (apesar da mágoa momentânea).
A tradição oral, em forma de singela história, conta um segredo da existência. A verdade, numa imensa estrumeira, via-se desperdiçada e perdida como ímpar pérola. Esta, com discreto tamanho e volume,  mantinha-se enterrada em meio ao material. Os cheiros, da merda e urina da injustiça e imprudência, mantinham-a bem escondida e guardada. As quantidades de material, dum acumulado de décadas, pareciam jamais revelá-la. As pessoas, com raras exceções, imaginavam-a definitivamente morta e sepultada. Alguma tremenda casualidade, com excepcional sorte,  seria unicamente capaz de localizá-la e  utilizá-la.
As ingênuas galinhas, com sua ânsia e fome por vermes, ciscavam continuamente nas  imundícies. Elas, dia após dia, mexiam e remexiam nas outroras fezes. Uma aparente paixão e vocação inabalável de revolver. Elas, neste cisca aqui e acolá, acabaram revirando uma montanha de material. No joga prá cá e prá lá a terra sucedia-se durante semanas e meses. A surpresa, num momento inédito, adveio em forma dum achado. A pérola surgiu a luz do dia. A verdade, por um e outro momento totalmente esquecida e perdida, ressurgiu das cinzas e do pó para vida.
Alguém, aqui e acolá, lembra e relembra acontecimentos e histórias. Os equívocos e falcatruas, no sonho dos autores, pensam estar bem esquecidos e enterrados. Estes, nalgum momento menos esperado, surgem a luz dos comentários e falas. Alguém, há semelhança da pérola da verdade, guardou o enterrado e impróprio. Estes, podendo ter ocorrido a sete gerações, acabam desvendados e recordados. A verdade, mesmo escamoteada e frágil, nalgum momento dá a sua graça. O melhor, para evitar aborrecimentos e transtornos, consiste em andar no caminho da correção e retidão.
A memória comunitária, através da tradição oral, guarda e recorda as experiência e vivências. Certos equívocos dá para perdoar, porém não tem como esquecer e ignorar. O conselho consiste em fazer o bem sem jamais olhar a quem. O indivíduo não precisa muito para viver, portanto, nada de matar e roubar para sustentar-se. O dito popular afirma: “a verdade perpassa o mundo”.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:  http://blog.groupon.com.br

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