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quarta-feira, 6 de março de 2013

A transparência contábil


As entidades comunitárias, como associações esportivas e sociedades de cantores, confrontam-se com o dilema da sobrevivência. Poucos membros, de maneira geral, se mantém ativos. Os jovens, como quadros novos, pouco se empolgam com dedicações e obrigações. As localidades, com a massiva migração campo-cidade, depararam-se com a evasão populacional. Algumas linhas/localidades possuem ainda um punhadinho de coloniais. Estes, num quadro restrito de associados, desdobram-se para ver em funcionamento algumas poucas entidades comunitárias.
As associações, nalgum passado (anos de 1950 a 1980), mantinham-se ativas nas diversas localidades. Cada qual, numa data pré-fixada e reconhecida pelas entidades co-irmãs, ostentava sua data magna (do evento cultural anual). Esta, na data de fundação, ia sendo esperada para avolumar público e engordar divisas. Estas, junto as mensalidades dos membros, era o meio de sobrevivência financeira. A diretoria dava o norte nestes eventos, enquanto todos os associados, com ativo trabalho, faziam-se participantes em tarefas pré-determinadas. Eles trabalhavam de forma voluntária e ainda pagavam os ônus de eventuais consumos.
O interessante, nestes eventos, mantinha-se relacionados a transparência contábil. Os membros da diretoria, noutro dia, reuniam-se para o balanço/contabilidade das entradas e saídas. Os registros do balanço escreviam-se nalgum caderno e, no final, afixava-se uma cópia, num papel transcrito, na porta frontal do prédio do salão. Qualquer morador poderia analisar e avaliar o balancete. Este, como modelo de transparência, demonstrava o desfecho da festa assim como era marca da efetiva honestidade.
A separação de caixas, de forma clara, havia entre o comunitário e o privado. Qualquer morador, sobretudo os associados, poderia debruçar-se sobre os números. Estes podiam inteirar-se de dispêndios, investimentos e lucros. As partes, diretoria e membros, abstinham-se de lançar dúvidas mútuas e evitar maiores falatórios. O orgulho e reputação do sobrenome, no meio comunitário, era digno de admiração, crédito e respeito.
As entidades atuais, em inúmeros exemplos, desconhecem-se de maneira geral a velha fórmula/prática. Os inúmeros eventos tomam vulto e nada de maiores acertos, comentários e referências dos desempenhos financeiros. Os membros e públicos, como colaboradores dos eventos (na proporção de frequentar), desconhecem lucros, ignoram dispêndios, privam-se de investimentos... Resultado: o descaso instalou-se com a sobrevivência de inúmeras sociedades. Uns poucos, adeptos abnegados, lutam arduamente pela manutenção.
Inúmeros moradores, com novas opções de lazer, frequentam outros ambientes e locais festivos. Alguns passaram a fazer descaso com as promoções locais. O caminho, como paliativo, parece juntar entidades menores para constituir alguma maior. A carência, de maior transparência (numa mistura do privado com o público), são causa primordial dos descasos e indiferenças. Os membros, de maneira geral, esquivam-se de participar em diretorias. Estes querem distância de atropelos e compromissos.
Honestidade e transparência ostentam-se sinônimos de credibilidade e orgulho. O morador, como filho da terra, convém reforçar suas entidades. Localidades, com carência de associações, costumam ser tachadas de atrasadas e retrógradas. A constituição de diretorias tornou-se uma problemática (em função de ninguém querer maiores obrigações e responsabilidades).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://reavivamentoereforma.com

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