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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O vendedor de porongos

Tamanhos e formatos da cabaça

Um colonial, numa certa ocasião, dirigiu-se à cidade. Este procedeu uma visita aos parentes. Na oportunidade aproveitou para levar alguma encomenda de cuias. Este, pelos porongos escolhidos a dedo, ganhou boa soma. Ele, numa conversa informal, relatou o sucedido ao curioso e necessitado vizinho.
Este, com os tradicionais problemas financeiros, pensou numa forma de comercializar  sua relegada produção. Algumas mudas, numa casualidade, haviam nascido e crescido num amontoado de esterco curtido. Os singelos pés (plantas) produziram algumas centenas de frutos. O produtor, diante da fala, vislumbrou a oportunidade de comercializá-los na cidade. Ele, com a o auxílio dos familiares, colocou mãos a colheita.
O produtor, nos primórdios da colonização (por volta de 1875), encheu uma carroçada de frutos. Ele, num certo dia, partiu pela esburrada estrada geral. Os familiares, com as prováveis vendas, aproveitaram o momento para encomendar uma porção de compras. A família, como pedido, almejava uma porção de quinquilharias (com o dinheiro auferido na venda).
O vendedor de porongos, na estrada de ida, precisou pegar uma barca para atravessar o rio (Taquari). O curso fluvial, nos meses chuvosos do inverno, ostenta acentuados volumes de águas. O camarada, depois de um deslocamento de quilômetros, achegou-se às cidades (principiantes núcleos urbanos de Estrela e Lajeado/RS). Ele, aqui e acolá nas casas dos moradores, ofereceu seu produto colonial.
Os naturais, de maneira geral, mostraram descaso com a mercadoria. Um produto comum, de fácil produção, nas lavouras das colônias. Este, numa profunda decepção, não conseguiu efetuar maiores vendas. Os dispêndios, de manutenção e subsistência, mal viram-se cobertos com vendas. As necessidades levaram a dispender o escasso dinheiro. O desânimo, numa altura, levaram-o a retomar o caminho de casa.  
O cidadão, diante das carências e dificuldades, obrigou-se a poupar e sacrificar-se mais. Ele procurou diluir e diminuir o prejuízo. O raciocínio, em termos gerais, consistia: “- Já que não vendi, não tenho como contratar os serviços de retorna da barca (diante da inexistência de ponte). Procurarei algum passo (passagem rasa no rio). Os animais e carroça, a nado, podem atravessar pelas águas”. Ele, sem maiores floreios e rodeios, procedeu dessa forma.
A junta de bois, conduzido nas rédeas, incursionaram pela passagem. Os porongos, sendo leves, passaram a flutuar nas águas. As peças, com o afundamento da carroça, foram correnteza abaixo (na direção da confluência dos rios). O veículo, noutra margem, viu-se esvaziado e lavado.
O produtor, achegando-se à casa, causou admiração aos familiares. Os gritos dos filhos eram: “- O pai vendeu tudo! O pai comprou nossas encomendas!” A esposa reforçou o barulho com o interrogatório: “- Vendeu todos os porongos? Deu para ganhar o dinheiro?” O marido, não sabendo que dizer ou explicar diante do esdrúxulo resultado, respondeu: “- Procurei mandar tudo para Porto Alegre!” (através da direção dos rios Taquari, Jacuí e Guaíba). A dedicação e o trabalho tinham sido em vão. A penúria monetária manteve-se como sina familiar.
Os produtores continuamente defrontam-se com as carências de mercados. A viabilidade econômica duma propriedade minifundiária de subsistência familiar ostenta-se um tremendo desafio. Inúmeros empreendimentos e negócios exigem  labuta e sacrifício, porém os resultados mostram-se mediocres. Mercadorias de fácil produção costumam conviver com carências de aceitação no mercado.

Observação: História narrada por Romildo Spellmeier/Colinas/RS.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.viladoartesao.com.br

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