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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A troca de posição




Um certo casal, morador das “grotas”, constituiu sua família. O sonho de qualquer homem e mulher, unidos em matrimônio, consiste em ter filhos. Estes significam a continuação e perpetuação familiar. Alguma companhia e segurança maior diante das dificuldades e infortúnios da velhice. Auxílio ao maçante e oneroso trabalho colonial. Aos rebentos revelam-se os objetivos maiores duma existência.
Os conjugues, depois de uns anos de convivência em meio ao manejo da terra, resolveram ter os primeiros herdeiros. A preocupação inicial era angariar uma estabilidade econômica-financeira básica “às encomendas da cegonha”. Rebentos significam volumosos dispêndios monetários e estes inicialmente precisam ser ganhos como alguma reserva. A família, “num primeiro momento da pegada”, obteve duas meninas. Estas nasceram esbeltas, robustas e saudáveis. Os pais preocuparam-se com a perfeição física. O sexo, naquele momento, era questão de segundo plano. Os genitores rezaram e pediram a bênção divina, na proporção da gravidez, pela nascença perfeita e sã dos “bênditos frutos do ventre”.
O casal, com a família em desenvolvimento, sonhava com algum varão. O sobrenome familiar deveria perpetuar-se no seio comunitário. Este, a umas boas décadas, mantinha-se conceituado e inserido naquele meio colonial. O pai e a mãe, numa despreocupação e ingenuidade rural, desconheciam maiores mistérios sobre a definição dos sexos. Eles, como nas ocasiões anteriores, apostariam na casualidade/sorte para gerar algum moço/varão. As duas chances iniciais tinham sido desperdiçadas. A solução consistiria em nova aposta e reforços através de pedidos e rezas ao Todo Poderoso.
O ancião (pai da mãe/sogro), num final de semana, achegou-se para rotineira e tradicional visita. Ele passeou para costumeira convivência e conversa familiar. Os momentos envolviam os assuntos e temas mais variados. A conversação descontraída ia e vinha. O assunto, numa altura, enveredou na abordagem das pretensões de algum varão. O senhor, com os seus oitenta anos nas costas, falou duma artimanha. Este, numa existência inteira, tivera uma “penca de filhos” (entre homens e mulheres). Ele, como homem das colônias, criara milhares de animais (entre aves, bovinos e suínos). O idoso conhecia inúmeros enigmas e segredos da natureza (em função da contínua convivência no meio rural).
O sogrão, em determinado momento (em particular), chamou o genro para “uma conversa ao pé de ouvido”. Este, na sua humildade e simplicidade colonial, externou: “- Estimado familiar! Precisas, na hora da concepção, trocar de posição na relação sexual. A esposa/parceira não pode ficar continuamente por baixo! Ela precisa ficar por cima e tu por baixo! O sexo incorre em mudanças nas posições!” O maridão, junto aos comentários com a parceira, pensou e repensou as costumeiras brincadeiras e relações amorosas.
O receituário/recomendação, nas próximas intimidades, foram seguidas a risca. O casal procurou inovar e fugir da rotina. A surpresa, por algumas mera casualidade ou influência, funcionou a contento. Os nove meses de ansiosa espera trouxeram a boa nova do varão. O plano funcionara a contento na procriação familiar. A família tinha colocado a salvo o orgulho do sobrenome. A dúvida persiste da real eficiência no método ou mera casualidade da natureza. O fato, na real, tornou-se outra lorota colonial e casais redimensionaram posições.
A natureza esconde mistérios insolúveis a pequinês da mente humana. O indivíduo nunca pode subestimar a experiência e a sabedoria do pacato cidadão. Os conhecimentos científicos vêem-se formulados e reformulados na proporção das hipóteses e teorias. As verdades, do momento, não passam de certezas relativas. Singelos detalhes, no final das contas, fazem imensas diferenças.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Colonial”

Crédito da imagem: www.giropelopiaui.com.br

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