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domingo, 3 de fevereiro de 2013

A raiz do problema


Um trabalhador assalariado, nos dias úteis, ausentava-se da família. Ele, de segundas a sextas, labutava no interior duma ferraria (duma localidade distante). Uma jornada estafante, com a ausência de maior maquinário (sofisticado), em função do massivo emprego da força braçal. A solda, com o manejo e remendos dos aços e ferros, deixava exaurido os poucos funcionários.
O empregado, numa oportunidade, achegou-se ao dono. Ele, na metade da semana, pediu uma folga (para retornar ao lar). O empregador, na sua tradicional franqueza colonial, perguntou as razões. Este, em forma de auto-reflexão, ainda interrogou: “- O amigo, a casa/residência, vai sempre nas sextas-feiras e não na metade da semana. Qual a causa do retorno antecipado?”
O funcionário, na sua aparente ingenuidade, explanou sua preocupação e  problema. Este, ao patrão, disse: “- Desconfio da honestidade e sinceridade da minha senhora. Essas ausências prolongadas estão causando conversas e falatórios. Penso haver ‘alguma cachorrada’ frequentando o seio da minha casa. Quero conferir o fato in loco e de uma forma discreta“.  O proprietário, tendo o cidadão como bom empregado, liberou-o da jornada.
Os moradores, das redondezas/vizinhanças, sabiam do fato a algum bom tempo. Algum conhecido, “com razão de adicionar gravetos a fogueira” ou “ver o circo pegar fogo”, deu alguma sutil indireta (sobre a visitação imprópria, porém concedida pela parte feminina). O camarada, nesta altura do campeonato, era razão das chacotas e falatórios. “O corno, como de práxis, ostenta-se o último a saber da traição”.
O patrão, diante da esdrúxula narrativa, precisou dar sua pitada/palpite. A figura de linguagem, da cachorrada, deixou-o admirado e reflexivo (porém ostenta-se numa fala corriqueira nas colônias). Ele ouvira alguma referência dos cochichos e comentários dos acontecimentos. Este, numa sentença ímpar, acabou dando a solução ao caso. O conselho, de forma curta e grossa, consistiu: “- A cachorrada encontra-se atrás da fêmea! Ostenta-se difícil eliminar a gama de machos! A solução consiste em descartar a cadela!”
A alternativa, diante da realidade dos fatos, viu-se tomada cedo como resolução.  O descarte adveio em forma de separação. O casal desfez o contrato matrimonial. Cada qual retomou sua vida.  Ele manteve-se como solteirão e ela refez outro matrimônio.
Um princípio básico: os males convém eliminar a partir da raiz dos problemas (nada de querer atacar as consequências). A franqueza ostenta-se uma pérola, porém poucos têm o bom senso de querer ouvi-la. Agradeça, de todo o coração, quem tem a coragem e a ousadia de dizer-lhe a verdade. As pessoas, de maneira geral, adoram falar e fazer chacotas e conversas (pelas costas).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:  tatiele-tatiele.blogspot.com

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