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sábado, 9 de fevereiro de 2013

A manha suína


Um morador, como colonial, era tradicional produtor de suínos. Ele, dentro da agricultura familiar diversificada de subsistência, cultivara ainda diversos víveres. O objetivo, como forma de angariar algum dinheiro, consistia  em engordar  chiqueiradas de porcos. Ele, para fechar o ciclo da atividade, escolhia as matrizes e machos (para gerar os próprios leitões).
O indivíduo, em três oportunidades diárias, obrigara-se a tratar os animais. A sua mera presença nas instalações, em quaisquer momentos, resultara num berreiro ímpar dos animais. A vizinhança, a longas distâncias, escutava a gritaria infernal. Os cuidados, para o bom andamento e êxito do empreendimento, ostentava-se contínuo. Uma necessidade e obrigação comum a todo criador,  caso contrário, nem adiantaria começar a empleitada.
Uma situação excepcional ocorria nos dias de cozidos/lavagens. Estes, no dia anterior, viam-se confeccionados num enorme panelão. O preparado, com ingredientes variados, ganhava os recursos da propriedade. Exemplos: abóboras, aipins, batatas, chuchus, sojas... Os  restos e sobras, como exemplo de carneadas e da cozinha, viam-se misturados e cozidos. O bicharedo, de manhã, ganhava o dito ensopado. O cozido, com o cheiro de miúdos, deixava adoidados e incontrolável os animais. Estes, com a algazarra de esfomeados, queriam danificar e pular as instalações afora. A dificuldade, em meio a afobação e confusão, consistia  até em administrar o cardápio.
Alguns animais, numa chiqueirada de vinte a trinta membros, mantinham-se deveras famintos. Uns simplesmente almejavam comer tudo sozinhos. Outros avançavam de forma agressiva nos cochos. Alguns mordiam os mais fracos...  Os gulosos consistiam nos mais esbeltos e gordos. Os primeiros, pelos humanos, vislumbrados no ambiente da criação. Eles, com o espírito de esfomeados, desconheciam um singelo detalhe da existência.
A gula, em função do detrimento dos irmãos, levava a antecipação da sua sentença de morte. O dono, na proporção do crescimento e desenvolvimento  ia abatendo ou comercializando os mais gordos. A limitação do espaço e o consumo alimentar exigia o procedimento. O peso, de cem a cento e vinte quilos, encaminhava os fofos ao abate. Os modestos, com dificuldades de acumular peso, obtinham alguma sobrevida. Outros, com modos sutis de boas fêmeas ou machos, viam-se selecionados/poupados, como reprodutores.
A escola da vida ensina: os exageros e ganâncias levam a desgraça. Os humanos arrogam-se direitos e domínios sobre os ditos espíritos menos evoluídos (até onde vai esse direito?). Certos desígnios, dentro da diabólica engrenagem econômica, ostentam-se difícil de mudar e reverter. A vida tem propósitos maiores à evolução espiritual e os bons sensos nem sempre são seguidos a contento.

                                  Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

                                                            Crédito da  imagem:  www.proparnaiba.com

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