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domingo, 20 de janeiro de 2013

Uma velada crendice


Quem já não saiu com o guarda-chuva em punho? Este esperava aquela chuva e “a maior indiferença por parte de São Pedro”. Uma realidade comum nos prolongados dias de verão! “A parafernália meteorológica”, anunciada na mídia, prenuncia uma situação e ocorre bem outra (nos inúmeros climas e microclimas). O cidadão antecipa-se aos fatos e previne-se com artefatos. Outras vezes exclui-os e “leva aquela água no lombo”. Fica, entre as idas e vindas, aquela dúvida: “leva ou não a peça”.
Os dias quentes, com insolação intensa e prolongada, evaporam quantidades incríveis de água. Os ambientes secos, com a baixa umidade relativa do ar, castigam os cenários. Os seres vivos clamam pelo abençoado líquido. Produtores, aos céus e terra, pedem e rezam pela divina benção. Cidades, dominadas pelos asfaltos e pedras, precisam dum alento e lavagem.
O calor vê-se impregnados nos espaços (materiais e imateriais). Animais e pessoas, na ausência de maiores ambientes frescos e úmidos, parecem sufocar e torrar. Queixas e reclamações sobram nas conversas e falas. Chuvas tornam-se “uma preciosidade como ouro e valem fortunas”.
Algumas nuvens, “em meio ao artificial e a fornalha”, avolumam-se e encobrem o horizonte. Esperanças e olhares aos céus não faltam para aliviar as agruras e sufoco. Lavar e refrescar os cenários empoleirados e poluídos. Alguns poucos, nestas suas idas, previnem-se com o guarda-chuva. Saem pelas estradas e ruas com os artefatos. Transcorre cedo uma velada crendice: “- Espantar a chuva com o guarda-chuva em punho!” Um mau presságio querer precaver-se nestes instantes mágicos.
As pessoas aspiram e torcem pelas precipitações. Outros poucos, no entanto, pensam em safar-se (daquilo que parece ser tão custoso e gostoso). Um aconchegante e bom banho, nestes momentos, aceita-se e compreende-se como graça. Guarda-chuvas, portanto, assemelham-se ao desconvite às águas (em meio aos dissabores do verão).
Mudanças de tempo, nos momentos anteriores as precipitações, acirram e alteram os ânimos e humores. Os indivíduos, depois duma boa e refrescante chuva, desarmam e serenam o espírito. Comentários e opiniões, sobre o comportamento das condições meteorológicas, são os mais esdrúxulos e variados. “Algum gato pingado”, em meio a maior estiagem, ainda combate por alguma razão as benéficas chuvas. A uniformidade humana, na questão dos interesses e opiniões, ostenta-se uma impossibilidade e inviabilidade.

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”


Crédito da imagem:http://solonaescola.blogspot.com.br/2012/08/o-que-causa-o-cheiro-apos-chuva.html 

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