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sábado, 5 de janeiro de 2013

Os Colonos



          “Pobres de nós”, choramingava o Marcos. “Cada dia que passa a situação fica pior. Ao, invés de progredir, a nossa colônia vai para trás que nem rabo de novilho. Também, como poderia ir bem se um prefeito que vale menos que uma fruta podre e que não tem escrúpulo em entregar até as nossas vidas por um lucro qualquer?
Ele, sim, tem uma bela mansão, guarnecida e bem abastecida, e ganha por dia o que nós não ganhamos num ano. Soube-se, inclusive, que recentemente, só numa negociação ganhou um milhão.
Agora, se nós déssemos algum valor a nós mesmos, poderíamos impedir isso.  
Mas nós somos leões dentro de casa e cordeiros fora, na rua. Eu até a roupa de cama e os atoalhados estou vendendo para sobreviver e, se continuar assim, vou ter que vender também a minha casinha.
Onde vamos acabar se nem os homens, nem os santos tem mais pena de nós? Chego até a pensar que tudo isso acontece por vontade de Deus! Porque, veja, ninguém mais confia no céu, ninguém mais observa o jejum nem outras práticas religiosas, ninguém tem mais respeito por Deus. Todos ficam o dia inteiro só pensando no dinheiro e procurando ter mais lucros.
Antigamente, até as mulheres de boa família saíam em procissão indo ao templo, implorando Deus por qualquer coisa, até para fazer chover. E Ele fazia chover mesmo, e todos voltavam para casa molhados, mas rindo de alegria.
Agora, os santos, se quiserem ajudar, estão de mãos e pés atados, porque todos perdemos a religião. Veja, os campos...”
A essa altura, Antônio, o bodegueiro, interrompeu a ladainha. “Por favor, homem, não fique lamuriando demais. Hoje as coisas andam assim e amanhã irão assadas, como dizia o compadre que perdeu o porco. O que hoje parece um completo desastre, amanhã poderá ser até uma grande sorte. A vida é assim mesmo: vai para lá e vem para cá.
Reconheço que é verdade que o país estaria muito melhor se houvesse homens decentes no comando, mas precisa também considerar que este é um período de dificuldades generalizadas. Por isso não devemos ser exigentes demais, porque todo mundo está nessa, e o céu é igual para todos.
Se tu estivesses morando em outro país, com certeza acharias que aqui, no teu, os leitões andam na rua já assados e temperados. Além disso, daqui três dias começa a nossa grande festa. Fica alegre, Marcos”.
         
Autor: Caius Petronius Arbiter ou Caio Petrônio Árbitro (27 – 66 d.C), escritor romano.


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