Translate

sábado, 12 de janeiro de 2013

Cortesia da Casa


O beltrano e fulano, muito amigos e parceiros no local de trabalho, mantinham uma mania. O primeiro, em inúmeras oportunidade excepcionais, pagava cerveja ao fulano. Este ostentava-se aficionado bebedor da “cervejinha estupidamente gelada”. A amizade, ao longo dos anos, mantinha-se em altas considerações e parcerias.
Os dois, numa certa ocasião, foram almoçar num restaurante. O beltrano convidou a parceria! Serviram-se e foi pedido, pelo garçom, sobre o consumo de refrigerantes. O beltrano pediu uma garrafa. O garçom, largando o pedido na mesa, perguntou: “- Para quem eu marco?” O pedidor, num dom de brincadeira, disse: “- Marca para os dois! Uma metade para cada qual!” O fulano, por causa de um real, não aceitou de maneira nenhuma. Este, muito menos, externou alguma justificativa. O primeiro, embora o consumo em parceria, acertou o devido.
O simples ato abriu-lhe os olhos. A amizade consistia em “dois pesos e duas medidas!” O cidadão, no ato de pedir, mostra-se rápido e, no instante de retribuir gentilezas, resoluto. A amizade continuou nisso porém nunca mais de pagar alguma “cortesia da casa”. O modesto real, na prática, tornou-se princípio da economia de muitos outros.
As pessoas, nas convivências diárias, testam-se continuamente. Os indivíduos, nos atos singelos, externam suas atitudes e crenças. As entrelinhas proporcionam os momentos mais propícios à avaliação. O beltrano, fulano e sicrano, nestes instantes, carecem de esconder suas manias e princípios. Os humanos, em função do dinheiro, mudam de atitude e fisionomia. “Cada macaco no seu galho” ostenta-se o melhor procedimento. Uns, na sua ingenuidade, pensam ter muitos amigos. Estes, de maneira geral, não passam de meros conhecidos. Ao melhor amigo da gente necessariamente não lhe somos a melhor preferência (outrém é sua parceria).
As pessoas, nos ambientes sociais, carecem de maiores amigos; possuem, na prática, um punhado de conhecidos e interesseiros. O indivíduo, numa necessidade extrema, conta costumeiramente mais com os estranhos do que realmente com os amigos. Certas realidades levam bom tempo para serem decifradas e entendidas. Amigos verdadeiros, no final das contas, são os familiares (a mãe e o pai).

Guido Lang
“Singelas Histórias do Cotidiano Urbano”

Crédito da imagem:  http://gilbertolouco.blogspot.com.br/2012/06/um-restaurante.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário