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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A sacanagem

Um certo cidadão, criado nas colônias, da herança familiar, em terras, fez sua chácara. Um punhado, de poucos hectares, edificou um espaço de lazer e labuta ocasional. “O pão de cada dia”, como funcionário duma empresa, ganhava no trabalho urbano. Os familiares, educados na cidade, pouco interesse demonstravam pelo legado.
O proprietário, filho de colonos e criado nas colônias, mantinha algumas criações e plantações. Incluía-se, entre as diversidades, animais de montaria, excepcionais árvores de ornamentação, moradia confortável, raivosas colmeias de africanas, formidável pomar, magníficas trilhas...
Uma consideração especial ligava-se ao açude. Este embelezava o cenário dos fundos das edificações. O chimarrão, em meio a uma aconchegante sombra, via-se degustado. Os olhos, no ínterim, viam-se deslumbrados com a agitação dos cardumes. Outros bichos silvestres, como maçaricos e patos, complementava o espetáculo da natureza. A água, como reservatório natural, deixava o ambiente refrescado e úmido. O líquido, no subsolo, mantinha o nível do lençol freático elevado. As plantas, em função da umidade, mantinham-se esbeltas e exuberantes.
Os peixes, como carpa capins, jundiás, prateadas e traíras, cresciam deveras. Uns, com o trato diário de ração, passavam dos bons quilos. Os menores, em semanas, prometiam crescer mais umas boas gramas. O almejado esvaziamento do açude, à família, era anunciada aos dias próximos a Páscoa. Poderia-se degustar o sabor da autoprodução da carne da Semana Santa. Esta certamente parecia ter um “gosto ou sabor aprimorado/melhorado”.
A surpresa maior, anterior ao esvaziamento, adveio numa certa ocasião. Alguns malandros, na surdina da calada da noite, anteciparam-se na colheita/festa. Estes, num roubo escamoteado de malandragem, fizeram algum arrastão. As águas conheceram a limpeza da presença de peixes. Alguma rede, certamente com malha fina, limpou o criatório. Quê raiva!
O dono, muito decepcionado e irritado, fazia ideia dos autores, porém não podia acusar/provar. Aquela frustração e perda de investimento e tempo. Os espertos, em meio às ceias, certamente ainda lembraram-se e riram-se da dedicação e trabalho alheio. A história da criação familiar de peixes precisou ser reavaliada e repensada. Repetiu-se a triste sina com a história de criatórios de peixes em propriedades minifundiárias de subsistência familiar.
Os investimentos em criatórios de açudes, nas chácaras e propriedades coloniais, tornaram-se motivos de aborrecimentos e perdas monetárias. A pilhagem e safadeza, de maneira geral, encontra-se impregnada no gênero humano. Certas brincadeiras e malandragens não passam de pretexto para excepcionais pilhagens e roubos. A impunidade, nos atos ilícitos, desestimula investimentos e melhorias assim como atiça a ousadia e petulância alheia.

                                                                                                  Guido Lang
                                          “Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem:http://caminhadasecologicasrj.wordpress.com/2012/01/16/sobre-a-trilha-do-acude-do-camorim/ 


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