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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Um modesto mimo



       A tradição oral, na memória da descendência, mantém viva alguns acontecimentos e fatos dos primórdios da colonização. Os colonos, na região da Colônia Teutônia (1958–1908), foram “jogados literalmente no mato”. A solução, para sobreviver, foi adaptar-se ao meio adverso e encontrar paliativos aos dilemas da sobrevivência.
A história relata uma modesta gentileza. Uma esposa/mãe/senhora, com alguma “penca de filhos”, acompanhou o marido (a ocupar o lote no interior da Floresta Pluvial Subtropical/Mata Atlântica). A vegetação indomada, sem clareira/descampado, precisou literalmente ser devassada (com vistas de iniciar/possibilitar o plantio das culturas anuais). O milho, mandioca, feijão, abóbora, desenvolviam-se deveras neste solo (com a milenar camada de húmus). Os inços praticamente mantiveram-se inexistentes e as derrubadas (com as subsequentes coivaras/queimadas) avançavam na proporção das necessidades de terras às lavouras.
A família, com ovos, milho (farinha e o verde), hortaliças, feijões, carnes e aipim, mantinha o cardápio básico. A senhora, no mínimo de quatro a cinco oportunidades (semanais), cosia fornadas de pão. Um excepcional artigo/pão de milho, junto a algum charque, abafava a fome nos momentos mais cruciais/extremos. Os cafés e as jantas, em boa dose, mantinham o artigo básico. Este, com crianças em pleno desenvolvimento e trabalho braçal, ostentavam excepcional fome. Alguma fatia de pão, na metade da tarde, revigorava o ânimo e energia (para continuar até o desfecho do dia).
Um procedimento, como virtude, chamou atenção nessa singela mãe/senhora. Ela tratava de fazer algum pão a mais. Este, numa situação ímpar, acabava colocado numa beirada de mato. Ele, na calada do dia, sumia do lugar. Alguém tratava de apanhá-lo como dádiva. Uma artimanha/estratagema de aproximação entre forasteiros e nativos. Alguns aborígenes tratavam de apanhá-lo. Sucedeu-se, num belo dia, haver alguma troca (em caça e plantas medicinais no lugar). Uma maneira de retribuição das rotineiras cortesias. A doação era um meio de evitar maiores surpresas (em assaltos e ataques). O intercâmbio revelou os primórdios do estabelecimento de algum tipo de escambo e relações culturais (entre europeus e naturais).
Os bugres, alcunha dos kaigangues e tupi-guaranis/habitantes das plagas do Vale do Taquari, jamais trataram de atacar ou surrupiar na dita família. O convite, das boas relações, fez os devidos efeitos. Criações e plantações puderam desenvolver-se de forma imune no cenário colonial das florestas. O tempo foi aproximando os povos e acabou-se com a desconfiança e guerra (em função da invasão do espaço alheio).
Singelos atos e gestos provocam maravilhas nos relacionamentos humanos. Por que guerrear na proporção de haver espaço para todos? O espírito cristão precisa prevalecer nas ações. Quem tem bom coração, dá com alegria e satisfação.   

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://revistaescola.abril.com.br/geografia/fundamentos/onde-podemos-encontrar-mata-atlantica-como-preserva-la-473054.shtml

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