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domingo, 30 de dezembro de 2012

Os periquitos


Algumas famílias coloniais, em meio aos lares, criavam seus papagaios e periquitos (aves da fauna silvestre). Estes, no interior dos matos e roças, viam-se apanhados jovens. Os filhotes melhor podiam ser cuidados e treinados. As preocupações constantes eram as caçadas e ousadias dos gatos. A domesticação, antes do rigor da legislação ambiental (constituição de 1988), mantinha-se prática rotineira. Um mimo, no conjunto das criações e plantações, possuir “algum bicharedo pronunciante” de vozes humanas.
Uma certa família, através dos filhos Afonso e Bernardo, achou um esconderijo (num louro oco, nos fundos da propriedade, no interior da Floresta Pluvial Subtropical/Mata Atlântica). Alguma espécie, olhando-se de baixo prá cima e numa altura de aproximados trinta metros, via-se entrando e saindo do buraco. Os coloniais, de imediato, pensaram tratar-se d’alguma ninhada  de aves (prováveis papagaios ou periquitos).
A dupla de jovens, na primeira oportunidade (após alguma chuva de verão), apanhou a comprida e pesada escada. Percorreu, em meia a estrada de roça, uma enorme distância (carregando o pesado artefato). A dupla, numa altura, achegou-se mato adentro entre árvores, cipós e pedras (numa encosta). Avançaram e enfiaram-se, no ermo, a localizar o tronco.  O propósito obcecado, no interior daquela cavidade oca, consistia em apanhar alguma ninhada de aves (os almejados papagaios ou periquitos). O Afonso, mais franzino, teve a nobre missão de escalar a escada. O Bernardo, mais pesado, de segurar, de forma firme, o artefato. Algum saco, como precaução, consistia para ensacar os inocentes seres/aves.
O Afonso, bastante afobado e curioso, enfiou, na primeira oportunidade, a mão naquele orifício (em meio a excrementos e folhagens). Este, para sua surpresa, escutou um chiado diverso e sentiu uma sensação fofa. Procurou, às pressas, encher e tirar a mão. Apreciou, de imediato, os frutos da ousadia e trabalho. Muitíssimo assustado e surpreso exclamou: “- Bernardo! Aqui tu tens os teus almejados/desejados periquitos!” A mão encontrava-se tomada de morcegos. Podia, num azar maior, ter tido a mão mordida por nalgum bicharedo peçonhento. Ele, em meio a maior frustração, aprendeu outra dura lição de vida: “- O indivíduo, num ambiente ignorado, não costuma enfiar qualquer membro!”
Certos ensinamentos assimilam-se unicamente no peso da decepção ou dor. Algumas tarefas dão um tremendo trabalho e os resultados mostram-se inexpressivos. A natureza, em meio a aparente esperteza humana, esporadicamente aplica algumas boas e únicas. As pessoas tem a tendência de enxergar os erros alheios e não os próprios.

Guido Lang
                                                       “Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”  

Crédito da imagem: http://meusperiquito.blogspot.com.br/2010/09/origem-dos-periquitos.html 

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