Translate

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Os anônimos


       Existem indivíduos de todos os tipos neste mundo. “Cada louco com suas manias e segredos” versa a sabedoria popular. Uns moradores escondem-se em casa! Estes almejam maior distância dos curiosos e faladores.
Alguns poucos, muito discretos e eficientes nos negócios, escondem-se no anonimato. Estes poucos procuram manter a discrição dos seus empreendimentos e posses. Deixam de comentar, junto aos familiares e estranhos, detalhes da sua vida pessoal. Evitam uma gama de aborrecimentos e falatórios (na proporção de adotar a postura). Ostentam-se, como postura de vida, deveras reservados. Fala-se, na gíria, “escondem o jogo”. Esta prática desperta a curiosidade alheia.
A tradição, pelas boas relações comunitárias, reza pelo cumprimento, recepção e convite (para entrar/sentar no interior das residências). O visitado convida/pede para entrar, sentar e colocar algumas conversas em dia. O visitante, nesta entrada, faz ideia dos bens e modo de vida familiar. As crenças transparecem nas arrumações e decorações. Descobre-se os gostos e manias daquele morador. O ambiente revela as energias existentes naquele seio!
Os anônimos fazem descaso com a visita. Os reservados carecem de oferecer alguma cadeira, externar o convite para sentar, possibilidade de vislumbrar o interior da residência... Os visitantes são tratados numa aparente indiferença. A discrição evita revelar gostos e paixões, modo e qualidade de vida, teor dos bens duráveis e leituras... Eles, no entender do morador, não interessam a estranhos e daí a reserva efetiva. Reza a tradição oral, pela fala, serem pessoas perigosas. Os próximos nunca conhecem/sabem as reais ideias e pensamentos destes. Ignoram com quem estejam realmente falando/relacionando. O excesso de resguardo e reserva atiça um mistério (em função do desconhecimento de estar ou não agradando).
Outros moradores, conhecendo o espírito alheio, evitam maiores proximidades e carecem de visitá-los. Sentem-se afrontados na proporção de não ver oferecido uma cadeira (para sentar), desconhecem a retribuição de alguma visita, evitam gentilizas de escambos (sobras de produtos)... Uns, como vizinhos, residem próximos (há décadas), porém nada de maior intimidade. Um relacionamento distante e frio como aparentes desconhecidos. Esporádicas conversas, nalgum encontro ocasional, sucedem-se. Pode-se, numa emergência, unicamente contar com seu auxílio (para fins humanitários).
Os moradores, por residirem em singelas comunidades, conhecem-se pelos hábitos, histórias e nomes. Uma boa vizinhança revela-se uma dádiva! O segredo de ostentar bons vizinhos consiste em ser uma boa vizinhança. Versa a sabedoria colonial: “Melhor um vizinho próximo que algum irmão distante!” e “cada cabeça uma sentença!”.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://www.webluxo.com.br/menu/imoveis/2009/elegante-mansao-marbella.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário