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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Equívocos divinos


Um daqueles doutores, autodidatas no conhecimento, achava algumas imperfeições na criação divina. Andava muito nestas colônias e deparava-se com inúmeras situações equivocadas.
Incompreendia, a título de exemplo, ver os mais fortes digerindo os mais fracos; fêmeas carregarem seios/tetas por uma vida (tendo uso restrito); irmãos, por dinheiro e fanatismo, matarem-se; adoentados, nos hospitais, deglandiando-se com o infortúnio; bandidagem e polícia, no fogo cruzado, matarem inocentes; povos, por terras, estabelecerem sangrentas guerras... Uma insanidade/loucura, para uma espécie dita inteligente/racional, chamada Homo sapiens.
Sucedeu-se, num belo dia, o camarada andar pela lavoura. Um sol quente de verão e as plantações clamando por água! Procurou alguma sombra e viu a importância das árvores. Algumas, no ínterim das lavouras, mantinham-se como aparentes estorvos. Apreciou sua roça de aipim. Este, no interior da plantação e numa consorciação, reparou as volumosas melancias. Uma dádiva para o sedento!
Degustou alguma debaixo dum tradicional guabijú. Uma planta frondosa, abrigo/refúgio tradicional de aves, poupada ao longo dos anos em meio à devastação humana... Procurou, no ínterim da comilança, fazer uma comparação. Como algumas modestas ramas, como as melancias, poderiam produzir dão saborosas e volumosas frutas? O magnífico guabijú, imponente e majestosa, modestas frutinhas? Uma aberração/inversão de qualidades e valores na sua ingênua compreensão. Alguma miúda/singela, nesse intervalo, caiu-lhe sobre as costas. Refletiu sobre o fato: “- Imagina se tivesse sido uma dessas melancias? Uns cinco a sete quilos! Que estrago!”.
O Criador, afinal, fez o mundo certo em linhas tortas. Convém aceitá-lo como ele se apresenta. Nada de colocar defeito em tudo ou em todos. Querer saber melhor sempre as coisas. O jeito é degustar e entender o prazer de cada realidade. Que não podemos aprimorar/corrigir convém aceitar. O indivíduo, desconhecendo os inúmeros ângulos das situações, tem extrema facilidade em equivocar-se. Muitos, antes de nós, passaram por situações semelhantes e nada mostra-se muito inovador debaixo desse velho sol.

Guido Lang
Livro “Singelas Histórias do Cotidiano da Vida”

Crédito da imagem: http://www.carazinho.rs.gov.br/web/index.php?menu=imprensa&sub=news&id=789

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