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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Baralho

Nenhum passatempo, nas colônias alemãs, ganha tamanha importância como os jogos de carta. Grupos, de três a seis membros (na maioria quatro), formam as chamadas companhias/parcerias. As folhas, daí em diante, rolam frouxas e soltas.
Algum jogo, numa tarde inteira, estende-se pelo tempo. Uns, nos primeiros momentos, afluem aos armazéns, bares, bodegas, quiosques e rodoviárias para ganharem jogo/partida. Outros, com antecedência, mantém algum grupo pré-combinado. Alguns poucos, a cada dia (numa semana inteira), possuem suas companhias/parcerias. As tardes, com aposentados, vêem destinadas aquela função/ocupação/passatempo. Algum imprevisto, como falecimento ou negócios adiam o tradicional joguinho. Alguns substitutos, dentro das possibilidades, podem ser convidados (com vistas de preencher a vaga). Algum ausente/impossibilitado, com antecedência, precisa avisar e conectar alguns substitutos.
Os néscios, nos jogos, admiram-se do fascínio e vício pelo baralho. “A alemoada”, como nenhum outra etnia/povo, tem tamanha abnegação e paixão. Cada ambiente, nas viradas de semana, ostenta seus jogadores. Eles, como companhia ocasional, podem ser em números variados. Jogadores, como amantes, sabem dos locais próprios a cada jogo, Estes, a título de exemplo, podem ser bife, canastra, canastrinha, escova, nove, schofkop, poker, trunfo... Um jogo, nas centenas de décadas de colonização e nunca relegado ao esquecimento, consiste no schofkop (tradução literal “cabeça de ovelha”). Os idosos adoram jogá-lo; ostenta-se rápido e interessante.
As conversas/discursos são de jogar como passatempo. A prática corriqueira revela-se uma falácia: uns querem ganhar algum dinheirinho; outros a cervejada do momento (os perdedores de cada jogo custeiam o prejuízo de consumo da partida). Turmas, nalguma noite, jogam por campeonato, churrasco, galinhada... Os perdedores tradicionalmente “marcham nas despesas”. O curioso, em meio as partidas, nada de maiores comentários, conversas, histórias... Os participantes “ficam vidrados no tal do lixo” (cartas jogadas fora/controle da concorrência). Algumas  folhas descartadas, para o bom entendedor/profissional, revelam o quadro de folhas/baralho (da concorrência). Algum espectador pode apreciar o cenário da competitividade, porém nenhum “pio”. “A quinta roda, numa carroça, só serve de estepe!” O espectador, portanto, não passa de mero observador.
Algumas turminhas, reunida no expediente da bodega (ao redor d’alguma mesa), significa: jogo de cartas. Os eventuais reclamões, como perdedores, cedo vêem-se descartados (nas companhias de jogo). A idade, na proporção da aposentadoria, parece acirrar a obsessão  pelo hábito. Os segredos, do bom jogador, estariam na abstenção do álcool (em meio a competição), controle das folhas e na eficiência dos cálculos matemáticos.
Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://jannahcar.blogspot.com.br/2010/05/hj-falarei-sobre-uma-injustica-baralho.html


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