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sábado, 15 de dezembro de 2012

A forragem


        
           Um certo produtor, deveras detalhista nas suas atividades, comprou rações. O tambo, para manter a produção (das vacas), exige cuidados e inovações (complemento de nutrientes). Uns animais, na prática, mostram-se mais reparados como certos humanos. Os investimentos e valor genético, no sistema capitalista, justificam os excepcionais cuidados e reparos. A realidade inveja certos semelhantes e afronta o princípio cristão “do amor ao próximo”. Os humanos com suas contradições e hipocrisias!
O rural, como de hábito, foi adubar suas lavouras e pastagens. A silagem e o pastoreio exigem uma frequente reposição de nutrientes caso contrário o solo não comporta o manejo excessivo. Os estercos, de aves, gado e suíno, reforçam a fertilidade. O produtor, reparando o desenvolvimento das plantações (adubadas), observou um detalhe. Uma forragem nova, num único pé, advenha trazida entre os dejetos dos animais. Este, de forma contínua e paciente, observou o desenvolvimento da nova forragem. Tinha, na certa, sido trazido entre rações.
A forasteira adequara-se deveras bem ao novo habitat. O ambiente parecia-lhe próprio em função do massivo desenvolvimento. O produtor observou o ciclo e procurou deixá-la criar sementes. Este daí colheu-as e replantou-as em nova área (preparada própria à função/bem adubada e corrigida). As dezenas de grãos, colhidas com esmero, deram origem a dezenas de plantas. Estas, noutro ciclo, ocuparam um raio de dois metros quadrados. Um único pé, de algum centímetro quadrado, multiplicara-se em medidas bem maiores. A dedicação e paciência, com a espécie, estendeu-se para o terceiro ano. A multiplicação, no momento atual, já poderia encher uma lavoura (com as sementes disponíveis). Testou-se, ao longo do processo, a qualidade da forragem. O gado degustava-o de forma excepcional.
O morador, no ambiente da localidade, tinha sido instrumento da introdução de nova cultura. Outros colegas, produtores, ouviram referências e solicitaram exemplares. Ganharam-nos, como cortesia e precaução de perpetuar a espécie, diante da casualidade de algum eventual desastre. A colheita, do quarto ano consecutivo, possibilitaria encher a propriedade (por inteira) com a quantidade de sementes auferidas. Cultivou mais alguma área e propagou, entre o círculo dos muitos próximos (familiares e vizinhança), sua majestosa planta.
O exemplo demostra a preocupação colonial com o melhoramento genético. Novas culturas, bem mais produtivas, sempre são bem vindas. A domesticação das plantas, ao longo dos séculos, trouxe o milagre da produção. As rações, disseminadas nas últimas décadas, difundiram uma gama de espécies. A maioria, na prática, constituiu-se em belos inços. Alguns, só com herbicidas potentes, para eliminá-los no contexto das lavouras. Costumeiramente a natureza sempre resguarda alguma planta para manter viva a espécie.
O capricho e a dedicação enobrecem o trabalho. Os homens, com os modernos meios de deslocamento e transporte, tornaram-se grandes disseminadores de espécies assim como flagelo em função da introdução de impróprias. Um modesto grão, muitíssimo singelo, pôde revolucionar toda uma realidade. Os grandes feitos costumeiramente iniciam com modestas práticas.

Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://br.viarural.com/agricultura/defensivos-agricolas/basf/pastagem.htm

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