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domingo, 18 de novembro de 2012

A imitação


        

          Conta-se, a partir da tradição oral, mais essa história (entre as muitas). Esta, a título de curiosidade e exemplo, lança ideia sobre as dificuldades de sobrevivência (nos primórdios da colonização). Inúmeros moradores, na atualidade, fazem  pouca ideia sobre os desafios dos tempos de outrora. Outros cidadãos “choram de barriga cheia”. Estes vivem abonados e acomodados, porém não podem deixar de exigir e reclamar. Algumas falas e pedidos assemelham-se a belas ofensas pela extrema cobrança e ousadia. O luxo e o supérfluo chocam pelo descaso e desperdício dos recursos naturais e trabalho social.
Uma família, sem maiores recursos monetários, emigrou da Europa Central. Via poucas chances de melhorias naquelas paragens. Ela atendeu ao chamado da propaganda da fartura americana assim como seguiu conhecidos (imigrados) à América. Esta, num porto (Hamburgo), ajuntou-se a outros grupos de emigrantes. Esperou umas boas semanas até conseguir um navio (com destino ao Brasil). Passou outras tantas (umas quatro) nas águas do Atlântico; algumas mais de quarentena no Rio de Janeiro até chegar a Porto Alegre. Alguma espera e de lá viu-se encaminhado por águas, através do Jacuí e Taquari, até o município de Taquari; do Taquari, com carretas e carroças de bois, até a Colônia Teutônia (atual município de Teutônia/RS). Achegou-se a sede de Glück-auf (significa “boa sorte” e é a atual Canabarro/Teutônia/RS), para o interior da propriedade (lote adquirido em prestações da Companhia Colonizadora). Transcorreram uns bons quatro bons meses até vencer a odisseia do percurso Alemanha – Brasil.
          A família, com seis membros, precisou iniciar os trabalhos no interior da floresta. Roçar, derrubar e queimar vegetação para constituir lavouras e colocar sementes nos  solos. A fome,  beirando continuamente os estômagos, até haver alguma e maior produção (carnes, cereais, tubérculos ..). A solução, diante da carestia, consistiu em abater fauna (silvestre) e observar as aves. Estas, como amoras, cerejas, ingás, guabijus, guabirovas, pitangas haviam na floresta, porém totalmente desconhecidas. A família, com razão de inteirar-se da possibilidade do consumo humano, inspirou-se nos próprios ou impróprios dos pássaros  O bicharedo silvestre ingeria as frutas, os humanos também poderiam consumi-las. Uma maneira de assimilar os recursos das terras desconhecidas. Um paliativo diante da aguda carência de vitaminas (no interior de corpos depauperados e judiados pelos maçantes trabalhos). Os anos, através da incessante labuta, foram abençoados e mudaram o quadro adverso de carências de toda ordem. As espécies vegetais, em função da extrema utilidade, conheceram a preservação nas  propriedades (na proporção de não serem estorvo às culturas  no interior das roças).
          A dor da fome leva a improvisações e paliativos ousados. A natureza, de alguma forma, sempre oferece, em quaisquer espaços, recursos à vida. Precisa-se unicamente de conhecimentos e habilidades para vislumbrá-los e explorá-los. Coloniais ostentam o espírito preservacionista na proporção de poderem conciliar lavouras com matos (no interior das propriedades).

Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

Crédito da imagem: http://blogs.d24am.com/amigosdamazonia/2010/05/27/dia-da-mata-atlantica/

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