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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Escambo de favores



Um certo colono criou um excepcional porco que fazia o capricho da propriedade. Este foi criado e engordado para um evento especial, quando os familiares advindos das cidades pudessem desfrutar um apetitoso assado.
Os dias transcorreram e a data achegou-se! O bicho, sem dó e piedade, precisou pagar com a vida o ônus do lazer alheio. Procurou, na hora do sacrifício, chorar numa aparência de criança, porém de nada adiantou diante dos propósitos humanos. O animal esquartejado procurou ressarcir o criador dos dispêndios do trato e trabalho, que fizeram necessários por meses e “doeram no bolso” com as rações.
Um momento, com vistas de haver cortesias recebidas, foi de devolver banhas, carnes e torresmos a vizinhança. Eles, numa ocasião, tinham abatido “alguma vítima”, quando, como bons próximos, “fizeram o agrado de dar um tira-gosto”. Uns vizinhos ganharam uns poucos quilos, quando seria uma inconveniência estocar todo o produto nos artefatos de refrigeração. “Uma mão lava a outra” e “outras mãos lavam muitas outras”, ou melhor, favores angariam a consideração e simpatia alheia. Um bom vizinho ostenta-se uma dádiva, porque emergências e necessidades nunca faltam nesta vida.
O criador/abatedor, na hora de selecionar a divisão dos produtos, manteve um singelo cuidado: retribuir artigos de qualidade, porém cada coisa uma parte. O melhor das carnes todavia resguardou  ao evento familiar; genros e noras adviriam da cidade para uma ceia excepcional. Eles daí poderiam degustar o apetitoso e cheiroso assado de porco. Procurou-se esta postura e todos ficaram muitíssimos alegres; o cuidado do porco custeou o ônus.
O idêntico, de alguma forma, aplica-se a conquista do poder, quando candidatos obrigam-se a pagar promessas. O erário mostra ser o porco; o vencedor da majoritária: o criador. A vizinhança: os apadrinhados pelos cargos. O cuidado maior consiste em guardar o melhor, os assados, aos muito próximos da cúpula dos partidos coligados. A festança estende-se nos quatro anos de gestão, enquanto, no ínterim, cria-se “novos porcos” com os favores da máquina pública. Uns mordem a isca e entram no abatedouro, enquanto outros mostram-se ariscos e querem tomar as próprias rédeas.
Poucas realidades mostram-se unicamente novas debaixo deste Sol velho, no que no mais ostenta-se a velha rotina. O indivíduo com avançada idade pensa ter visto tudo, porém alguns poucos sucedidos novos ainda surpreendem.

Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)

 Crédito da imagem: http://www.chefnarede.com.br/receitas/pernil-de-porco/

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