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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O drama das nascentes



     As encostas dos morros, no contexto das chuvas frequentes e matos naturais, viam brotar a água na maior abundância. Os olhos d’água originavam canais, valos e arroios, que na declividade abaixo, davam vida a plantas e animais. Um barulho estrondoso, no contexto das precipitações maiores, ouvia-se a longas distâncias, quando havia córregos caudalosos e quedas da água improvisadas para a natureza. As chuvas de inverno e primavera formavam um espetáculo excepcional, quando o solo via-se encharcado com os excessos.
     Colonos, até 1970, podiam tomar água nos córregos e nascentes, quando não havia perigos das contaminações por agrotóxicos. O cuidado mantinha-se em consumir água corrente e fresca e jamais estagnada. Famílias tinham nascentes e poços no interior das propriedades, quando no ínterim do trabalho nos fundos dos lotes, poderiam acorrer ao valioso líquido no avolumar da sede. A água, nos filetes límpidos, brotava do interior das rochas ou saibros, no que fazia a alegria de animais e homens. Umas nascentes, pelo vigor do líquido, mantinham-se conhecidas há décadas, quando eram socorro, no desabrochar das sedes, da vizinhança próxima. Outros foram canalizados para abastecer criações e moradias, quando ainda edificava-se casas próximas a fontes.
     Adveio, com o aumento populacional, a necessidade de poços artesianos, que aprofundaram-se continuamente na proporção das necessidades de água. O lençol freático foi baixando com as extrações massivas e as chuvas ainda, por sua vez, começaram a fraquejar. Decorreu o consequente fraquejar das nascentes e poços, que já não tem os vigores de outrora. Algumas precipitações maiores dão origem às outrora nascentes, porém, em poucos dias, vem-se exauridas. A recomposição do lençol absorve o líquido como “esponja vê sumir água derramada”. O consumo da água, como nos tempos do passado, in natura, está em perigo em função do “amplo empego dos venenos”.
     O Homem, com suas necessidades ilimitadas, interfere nos desígnios naturais, quando o secamento de inúmeras nascentes integraria o rol das mudanças climáticas. Parecia-se, nos tempos de outrora, falar em falta de água doce “alguma piada de malucos ou de profetas tenebrosos”, e na atualidade, uma realidade cruel.  A humanidade, na sua caminhada civilizatória, resolve uns flagelos, todavia cria tantos outros, no qual inclui-se a carência de água.

Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”

Crédito da imagem: http://geoparkararipe.blogspot.com.br/2008/12/parque-nacional-das-nascentes-do-rio.html

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