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domingo, 22 de julho de 2012


ARTIMANHAS E BRINCADEIRAS COLONIAIS

Os roubos eram fatos raros nas comunidades rurais, quando, num dom de astúcia, permitia-se roubar unicamente galinhas e melancias. O proprietário das aves, com a razão de mostrar a esperteza e ousadia, era comumente convidado à ceia, quando noutro dia, unicamente notava a ausência das suas adoradas e preciosas poedeiras. Este, num primeiro instante, nem quisera acreditar nos fatos, quando “pregaram-lhe uma tremenda peça”.
A invasão da roça alheia, com a finalidade de obter algumas melancias, era uma brincadeira rotineira no meio colonial. A existência de uma abastada e bonita lavoura de frutos cedo espalhava-se aos quatro ventos, quando alguma turminha de malandros improvisava uma visitinha.
A invenção de histórias, aos fofoqueiros, consistia noutra artimanha, quando alguém, com vista de aplicar um bom trote ao “comentarista voluntário”, criava alguma mentira. Esta era narrada ao ouvinte, que, na primeira oportunidade, tratava de passar adiante a versão. Os fatos contados costumeiramente eram assuntos combinados com os atingidos, quando os comentários não passavam de um “baita invenção”.
O baralho era um passatempo rotineiro nas colônias, quando, em meio ao jogo, alguém prestava-se “a fazer mutretas”. Este não sabia perder, quando tratava-se de valer-se de artifícios. Estas, como, dar-se maior número de cartas ou esconder outras, era descoberto, quando o elemento desonesto era colocado “em banho-maria”. Ele era paulatinamente excluído das rodadas.         
A existência de tesouros, nos remotos interiores, fascinou a imaginação de aventureiros e caçadores de riquezas. As conversas comunitárias costumeiramente criavam histórias e lendas, quando surgiam recantos misteriosos. Estes, nos cemitérios, grutas, igrejas, matas e moradias, eram procurados, quando forasteiros, nas caladas da noite e no transcorrer de domingos, davam-se tempo de vasculhar lugares e trabalho de cavoucar buracos. A inutilidade da procura era causa de gargalhadas e os esporádicos sinais de riqueza motivo de mais peripécias.

Guido Lang
Escritor, historiador e professor
Revista Vitrini, n°35, outubro de 1997, p.16.

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