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segunda-feira, 30 de julho de 2012

"A Pérola das Colônias Alemãs"


O período da colonização alemã, entre 1846-1870, viveu um momento de expansão acentuada, que relacionou-se à criação de inúmeras colônias particulares. Uns especuladores imobiliários procuraram ganhar vultosas somas, quando adquiriram terras devolutas para torná-las áreas colonizáveis. Os negociantes, no máximo, organizaram algumas trilhas de mato, empreendiam mediações aproximadas e iniciaram a comercialização dos lotes. Os colonos, na medida da necessidade de terras aráveis, afluíram, quando precisavam lançar a infraestrutura básica para assegurar o desenvolvimento econômico-social. A Colônia Teutônia incluiu-se nesta negociata particular, quando Carlos Schilling, acrescido de alguns sócios e idealizadores do projeto, lançou as bases do empreendimento teutoniense.
Os empreendimentos de colonização particular tornaram-se uma realidade comum, quando criou-se colônias como Bom Princípio, Forromeco, Escadinhas, Caí, Montenegro, Pareci, Santa Maria da Soledade, Maratá, Brochier, Conventos, Estrela, Mariante, Conventos Vermelhos, Venâncio Aires, Teutônia, etc. Todas as iniciativas depararam-se com sérias carências e dificuldades de moradores, que costumeiramente defrontam-se com o abandono, distância, doenças, feras, selvagens... Os colonos germânicos precisaram derrubar árvores centenárias, extinguir répteis, improvisar estradas, manter a sobrevivência... Várias colônias levaram anos ou decênios, quando passaram a ostentar alguma dignidade de vida e produzir os primeiros excedentes agrícolas. Inúmeras áreas pouquíssimo contribuíram para o pleno êxito do empreendimento agrícola, porque o solo, predominantemente arenoso ou terra roxa, cedo perdeu a camada de húmus. Os colonizadores, após a derrubada da vegetação original, fizeram massivas coivaras ou queimadas, que consumiu, em boa dose, o húmus da decomposição da matéria orgânica e prejudicou sensivelmente os micro-organismos do solo. Os cuidados de conservação, através de curvas de nível ou culturas permanentes, pareciam ignorados em solos temperados, quando a água encarregou-se de levar o limo. Contribui-se, desta forma, para destruir a maior riqueza dos colonos, que é a própria fertilidade do solo.
Os teutonienses procederam de modo semelhante no trato da terra. Encontraram, em muitas áreas, uma realidade diferente, que relacionou-se à existência de uma ampla camada argilosa, que, noutras colônias constituía-se muito frágil e susceptível à destruição. Esta fertilidade estendeu-se sobretudo ao longo do Arroio Boa Vista. Este possui um vale fértil, que aproveitou-se intensamente para explorar a agricultura minifundiária de subsistência. Cultivou, durante decênios, a terra preta, que não parecia ceder ao esgotamento. As lavouras multiplicaram-se com cereais, pastagens e tubérculos, que possibilitou alimentar animais domésticos e moradores. As carências cedo cederam espaço a fartura.
A Colônia Teutônia tornou-se celeiro de produção alimentar, quando comercializara e desperdiçara (com a carência de mercado) ampla quantidade de banha, carnes, cereais, frutas, nata, ovos... As mercadorias comercializáveis seguiam, através de carretas, carroças e montarias, em direção aos portos fluviais de Bom Retiro do Sul, Estrela e Taquari. O governo provincial colhia vultuosos frutos com a colonização teutoniense, quando não tinha despendido maiores recursos em investimentos. Teutônia, em decorrência, passara a ser um modelo de iniciativa privada de colonização, no qual os moradores tiveram a capacidade e ousadia de encontrar alternativas e soluções para as suas dificuldades e obstáculos.
Os moradores procuraram assegurar a manutenção de estradas, criaram escolas comunitárias, edificaram comunidades religiosas, estabeleceram cemitérios, organizaram sociedades de canto... A população atingira um desenvolvimento cultural e econômico, que tornara-se um protótipo de organização comunitária. O êxito e progresso alcançado deu margem a um majestoso título, que divulgou-se na linguagem administrativa. Esta denominação consistiu na "Pérola das Colônias Alemãs" da província, porque era uma comunidade, de estilo de vida europeu, em meio aos trópicos, quando convivia-se numa prática com tamanho analfabetismo, carências, desleixos, concentração de renda...
Teutônia, na atualidade como no passado, segue sua caminhada histórica, no qual procura as alternativas e soluções em meio a sua organização comunal e laboriosa. Segue rumo, com auxílio da autonomia político-administrativa, ao melhoramento contínuo da dignidade e qualidade de vida. O município continua como uma pérola no contexto das municipalidades, quando ostenta moradores inovadores. Sabe trilhar os caminhos da autonomia e prosperidade em meio a dura realidade nacional, na qual a burocracia, muitas vezes, mais atrapalha do que acrescenta, e auxilia para edificação da liberdade e melhorias.

Guido Lang
Histórias Coloniais - Parte    10
O Jornal  O Informativo de Teutônia, p. 04
12 de julho de 1995



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