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sábado, 4 de maio de 2013

O teor da mercadoria!



Um jovem namorador, apressado nas aventuras e ousadias, mostrou-se interessada numa determinada menina moça.
Esta, inexperiente e reservada, recusava num primeiro momento aproximações e incursões.  As recomendações familiares, em função de evitar aborrecimentos e comentários, foram em ter calma e desconfiança nos relacionamentos.
O cidadão, numa iniciativa de namoro, obteve suas graças e carinhos. Este, com apressadas segundas intensões, disse-lhe: “- Como vou comprar uma mercadoria desconhecendo o teor do produto? Preciso degustar a qualidade da fruta antes de ficar!” O autor desconhece os resultados da iniciativa!
Cada qual dedica e doa a quem lhe atrai e conquista! “Muitos pensam ser desnecessário a compra do bicho inteiro na proporção do consumo de poucos quilos!” Alguns são deveras apressados e precipitados nas ações e resoluções!
As incursões e propostas abundam na juventude e faltam na velhice! O demorado, em meio aos muitos, consiste em achar o adequado e afinado. A confiança ostenta-se primordial em quaisquer empreendimentos e relacionamentos.
                                                                              
Guido Lang
“Singelos Fragmentos das Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem:  http://criaturasbr.blogspot.com.br

A companheira solidão



Uma senhora viveu sozinha numa ampla e elegante casa. Os dias passam e nada de maiores convivências!  Alguma boa gargalhada, ímpar conversa, singelo diálogo para “romper a rotina das mesmices!”
A fulana, junto aos conhecidos e familiares, queixa-se de doer a boca. O fato adviria da falta da tradicional conversa. Os sentidos, como a audição e fala, encontrar-se-iam num processo de atrofia. Ela, como companhia, procurou valer-se da mídia (para safar-se das agruras da solidão).
A convivência, com filhos e netos, ocorria exclusivamente em eventuais finais de semana. Cada membro tem suas distrações e preocupações! A avó relegada num contexto marginal e secundário! 
A solidão, para a pessoa como ser social, mostra-se deveras cruel e fatal. Os indivíduos solitários, nas grandes aglomerações, mostram-se uma sina corriqueira! Os humanos, mesmo brigados ou intrigados, necessitam da companhia de próximos e semelhantes!
As cidades oferecem restritas possibilidades à vida comunitária! A loucura, por dinheiro, torna as pessoas distantes e interesseiras. “Cada qual para si e deus para todos tem sido o lema urbano!”

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://www.estilo27.com

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A inversão de resultados



Os anos, com a contínua e diária vivência, revelam-nos certas aprendizagens e realidades! Nada melhor do que a experiência e o tempo para ensinar certos conhecimentos!
Pai e filho, como passatempo e treino, improvisaram suas tradicionais peladas. Uns joguinhos, como amantes do esporte, para descontrair e exercitar-se no interior da garagem!
O genitor, por uns bons meses, fazia corpo mole para fazer frente às investidas e jogadas do adversário. Este, em inúmeras oportunidades, deixava ganhar o seu rival (com razão de evitar os desapontamentos e desestímulos). O rebento, em instantes, desconfiava e queixava-se dessas sutis vitórias!
Época adveio e a situação reverteu! O filho, com a maior facilidade e habilidade, fazia descaso frente aos esforços das jogadas. O jogador, para não perder o companheiro e parceiro, deixava ganhar umas e outras partidas!
Uma realidade comum, na sucessão das gerações, consiste na alternância de mandos e postos! O vigor de hoje transforma-se na fragilidade do amanhã! Certas facilidades e posições, muito rápido, mudam de contexto e situação!
O indivíduo, na flor da idade, acha fácil certas práticas e tarefas. A idade, com suas dificuldades e flagelos, aconchega-se antes do esperado e imaginado. Inteligente e sábio, nesta agitada e desenfreada loucura, mostra-se aquele que alcança longa e interessante vida!

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://br.freepik.com

A discreta lancheria



Um prédio, localizado numa vila de operários, assemelha-se a qualquer outra modesta e singela moradia. Este, de forma esporádica, encontra-se aberta a luz do dia. Uns, como os forasteiros ou visitantes, cedo a identificam como desabitada e vazia no conjunto.
A ímpar ocupação, nas caladas e surpresas das noites, ocorre através duma agitada e intensa vida econômica e social. Inúmeros clientes, sobretudo jovens, afluem de forma ativa (numa “pausada romaria”). O atendimento ocorre através duma discreta e minúscula janelinha. A clientela e frequentadores, saídos de becos e ruelas, assumem ares de estranhos seres (“assemelhados a farrapos ou zumbis humanos!”).
Os moradores, como população e vizinhança em geral, fingem desconhecer ou ignorar o comércio clandestino. Estes, inspirados no lema “de cada qual cuidar da sua vida”, querem distância de aborrecimentos, incomodações e represálias. Uns colaboram, outros temem a ação e influência do poder do tráfico. O dono do ponto, com favores e mimos às famílias, apresenta-se de achegado e boa gente!
O negócio de entorpecentes, a margem das leis, encontra-se disseminado pelos inúmeros ambientes e espaços! A praga social das drogas, através dos desvios da juventude e substituição de valores, encaminha a destruição da civilização! Alguns corajosos e honestos, em nome da solidez das instituições, teriam a insensatez e ousadia “de colocar as cabeças a prêmio”?
O comércio dos “bagulhos” encontra-se minado nos inúmeros ambientes (“tudo dominado!”). Uns muitos, da degradação e destruição humana, extraem o seu “ganha pão”! Outros poucos encaminham seu enriquecimento! Quais os moradores que tratam de brigar/denunciar os seus vizinhos para a autoridade policial? Uns precisam dos outros nos ambientes das favelas e vilas!

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem: http://www.gitowendel.com

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A troca de dono



Um cachorrinho, depois duma certa idade, acabou adotado por uma família colonial. O dono original, por falta de espaço no ambiente urbano, resolveu doá-lo às colônias. Este, no novo local, cedo realizou-se como animal. Ele conheceu a liberdade das correntes e debruçou-se sobre as caçadas.
O animal, nas idas e vindas no ambiente rural, conheceu macegas, matos e roças. As caçadas, como passatempo predileto, tornaram-se uma obsessão. Quaisquer oportunidades viam-se aproveitadas para devassar espaços. O novo dono, na compreensão canina, fazia-lhe escassos passeios ao interior das lavouras.
O cão, depois de uns bons meses, aprendeu a acompanhar o vizinho. O rural, a cada dia, ia e vinha do interior da propriedade. Os passeios, com o patrão opcional, tornaram-se uma opção e rotina. A casa colonial, no interior dum lugar ermo, viu-se desguarnecida na vigilância.
O cachorro, em meio à paixão das caçadas, adotou o novo lar. A antiga moradia, do segundo dono, deixada às moscas. Os graxains, lagartos, gatos do mato e raposas, com frequência, ousaram atacar o ambiente das galinhas. A ausência canina, em função da carência de cheiros, reforçou a ousadia da fauna silvestre.
O dono de adoção, para não deixar acorrentado o animal, procurou tratá-lo deveras bem. Este achou em poder reverter uma situação adversa. O passatempo das caçadas, como vocação, falou mais alto do que os frequentes mimos. As esporádicas visitas não davam conta das exigências de guarda.
O morador, diante do abandono proposital, resolveu adotar outros dois jovens (cachorros). Eles, treinados paulatinamente nas funções, levaram a dispensa dos serviços do primeiro. O ousado fujão pode seguir sua sina!
O antigo parceiro, numa certa altura, fez descaso das suas eventuais visitas. Os mimos e tratos cessaram na proporção dos desleixos com as obrigações. Ele tinha renunciado a sua nobre adoção e função.
O idêntico aplicam-se aos filhos. Estes, numa altura, precisam abandonar a família. O torrão fica num plano secundário. Os pais continuam sua história. Eles procuram ajudar no que dá. Os genitores, de uma ou outra forma, procuram preencher o vazio.
O êxodo, nas comunidades do interior, tem sido um fato corriqueiro. Os jovens, na migração rural-urbana, abandonam famílias e comunidades. O emprego, como ganha pão, chama-os nos espaços urbanos. Eles, no trabalho assalariado, ganham o dinheiro bem mais fácil e rápido (do que na agricultura familiar).
As inúmeras comunas, nas últimas décadas, conheceram um verdadeiro esvaziamento rural. O enfraquecimento das entidades comunitárias tornou-se uma sina. O abandono das paragens, em parte, assemelha-se a história do desleixo canino.
Inúmeras localidades, com a massiva debandada dos filhos, tornaram-se uma espécie de tapera. Vultosos recursos rurais acabaram extraídos do interior e aplicados nos investimentos imobiliários. Moradores novos advém para preencher o vazio demográfico deixados por emigrantes.  

Guido Lang
“Singelas Crônicas do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://www.bayerpet.com.br

O desleixo patrimonial



Um modesto senhor, pela esperteza comercial e industrial, tornou-se um homem abonado e reconhecido. Este, nos anos de labuta, avolumou expressivo patrimônio!
O dinheiro e a eficiência trouxeram-lhe admiração e fama. Ele, nas condições de vida, permitiu-se “ostentar o paraíso na Terra”: amores, comidas, lazeres, prazeres, veículos, viagens...
Uma obsessão e vício, como desvio da rota, tornaram-se as intimidades e paqueras! Mulheres, nos eventos privados, não podiam ausentar-se! Somaram-se certamente bebedeiras!
O fulano, como o “garanhão da madrugada”, mantinha três íntimas e próximas. Elas recebiam as benesses do dinheiro e da fartura. A felicidade, no entanto, era uma realização aparente ou ocasional!
O cidadão, com carência de energia e tempo, parecia não conseguir atender nenhuma a pleno contento. Os comentários e falatórios, “as costas e surdina”, eram “de levar chifre da beltrana e sicrana”! Esta prática, no círculo masculino, repercute e soa muito mal!
Ele possuía as condições financeiras, porém não a convivência e dedicação necessária! As dificuldades residiam nos excessos de posses. Quem tem demasia não consegue zelar por todos e tudo! O dono, de alguma maneira, cedo vê-se surrupiado!
Patrimônios volumosos oneram na manutenção e redobram a vigilância. A abundância do dinheiro traz no bojo as possibilidades dos abusos e exageros! Tarefas várias, concretizadas de forma paralela, acabam realizadas de maneira imprecisa!

Guido Lang
“Singelas Fábulas e Histórias do Cotidiano das Vivências”

Crédito da imagem:  http://www.fotos.ntr.br


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Cortesia


Um colonial, no contexto da propriedade, plantou diversas sementes de abacate.
Os abacateiros, como plantas de clima equatorial, ganhavam abrigo nas encostas e morros. As geadas, no sabor do inverno, careciam de fazer os danosos efeitos (tão comuns nas baixadas na proporção dos avanços das frentes frias nas zonas subtropicais).
O morador, depois de uma aproximada década de espera, conheceu a produção de graúdos e majestosos frutos. Uma saborosa maravilha para o consumo familiar e animal. Um excepcional atrativo a esfomeada fauna!
O plantador, em meio à massiva produção, tratou de ofertar exemplares como gentilezas (aos amigos e vizinhos). As frutas, com tamanha qualidade e quantidade, apodreciam (ainda assim no interior da roça). Um tremendo desperdício, no entender colonial, em meio a muita gente carente do artigo nos espaços urbanos.
O cidadão, na sua ida a sede distrital, resolveu aproveitar a oportunidade. Ele pensou em experimentar a comercialização dos abacates. Este procurou apanhar uma porção das mais bonitas e graúdas. As unidades foram colocados num saco e carregados até o leiteiro (o outrora tradicional caroneiro das colônias).  
O produtor, achegando-se na aglomeração, passou a ofertar o produto. Este, a título dos encargos, quis cobrar um simbólico valor monetário. O pessoal, de várias maneiras, tratou de esquivar-se de dispêndios. A compra desinteressava-lhes como artigo de primeira necessidade.
O peso de carregar, numa altura para cá e para lá, levaram-no a despejar a mercadoria (na beira da estrada). Curiosos e gurizada, de imediato, trataram de apanhar as unidades. O pessoal, na prática, queria as frutas de cortesia, porém nada de maiores gastos financeiros.
O morador, como inúmeros habitantes rurais, então preferiu deixar apodrecer as toneladas de frutas (tão comuns em períodos de safra). O trabalho de produzir, apanhar e levar para comercializar acabara não valendo a pena.
Abrir praça em época da safra significa investimento em tempo e transporte. O lucro da produção, para quem vende, costuma ser minguado; o custo para quem compra se mostra oneroso (em função dos encargos). Certos exemplos e experiências revelam-se uma escola prática da vida.
                                                                   
  Guido Lang
                                                    “Singelas Histórias do Cotidiano das Colônias”

Crédito da imagem: http://rmtonline.globo.com