(Trecho extraído
da obra épica de Guido Lang, página 11)
A
história dos Lang perde-se na Europa Central. Estes, por volta do século XVII,
migraram à região do Hunsrücker, que integra, atualmente, a República Federal
da Alemanha. Sua história assemelha-se a de milhares de imigrantes teutos, que
vieram à América à procura de melhores perspectivas de vida.
Os
Lang, no Hunsrücker, eram trabalhadores braçais e ferreiros na aldeia de
Riesweiler. Jacob nasceu em meio as dificuldades econômicas, pois os pais,
Jacob Pedro (1792-1872) e Juliana Catharina Kind (1797-1829), avós: Pedro Lang
(1761-1807) – Maria Katharina Müller (1773-1823) e Martin Kind (1750-1802) –
Juliana Margaretha Rheinemann (1756-1814), viviam numa condição de
semi-escravos dos latifundiários da região. Jacob Pedro, numa visita à aldeia
de Dichtelbach, conheceu Juliana Catharina, a qual tornara-se namorada e
esposa. Casados, resolveram instalar-se na aldeia de Dichtelbach, que era a
aldeia natural dos Kind. O casal teve os filhos Pedro, Jacob, Davi e Catharina,
porém esta veio a falecer com um mês de idade. Jacob Pedro e Juliana viveram em
constantes dificuldades econômicas, quando veio acrescer-se a desgraça: Juliana
adoeceu e acabou falecendo, deixando Jacob Pedro sem condições de cuidar dos
filhos.
Porém
conheceu, no mesmo ano, a jovem, natural da aldeia de Womrath, Elisabeth
Catharina Closs. Casaram-se e vieram a ter os filhos Catharina, Eva,
Margaretha, Elisabetha I, Cristina, Heinrich e Elisabetha II. A Elisabetha I
veio a falecer com três anos de idade, pois, naquela época, faltavam recursos
medicinais e era comum o falecimento de crianças. As dificuldades econômicas e
a instabilidade política, no Hunsrücker, acentuaram-se. A Prússia, dominadora
da região, envolvera-se em prolongadas guerras. A família fazia plantações, em
parceria, com latifundiários, entretanto, constantemente, acabavam perdendo a
colheita, pois soldados iam e vinham pelas culturas. Acrescentava-se a isso, a
pobreza do solo, secas, exploração de donos das terras, excesso populacional na
região e rivalidades internas entre os próprios moradores. As perspectivas de
melhores condições parecia uma impossibilidade e iniciou-se o desejo de migrar.
(Trecho
extraído da obra épica de Guido Lang, página 12 e 13)
A
família, neste momento, providenciou a venda dos poucos pertences. O objetivo
foi de obter alguns recursos financeiros à viagem. Trataram de comercializar
com os vizinhos os escassos imóveis, animais domésticos e ferramentas
(impossíveis de levar durante a viagem). Os recursos puderam custear víveres e
as passagens de Hamburgo a Rio Grande.
A
etapa seguinte era chegar do Hunsrücker até o porto de Hamburgo, no qual saíam
os navios cargueiros. Estes, geralmente, traziam produtos tropicais e riquezas minerais
à Europa e levavam, de volta à América, artigos industrializados e carga
humana, que eram colonos (disposto a instalarem-se no continente americano). Trataram-se
de deslocar-se de barco e carreta do Hunsrücker até Hamburgo, quando precisaram
decidir-se pelo rumo da viagem. Poderiam optar entre os Estados Unidos da
América ou Brasil. Os Estados Unidos ofereciam a vantagem de reencontrarem-se
com centenas de conterrâneos e um eventual reencontro com os filhos Pedro e
Davi. O preço da passagem, no entanto, era mais caro e a família não tinha
recursos suficientes. Ao passo que o Brasil oferecia a vantagem de serem
considerados como “colonos do Governo”, quando teriam direito de receberem
auxílio para o custeio de passagens, instalação em terras devolutas e auxílio
alimentação. Desconheciam informações sobre o Brasil e, muito menos, sabiam da
sua localização. Tomaram conhecimento da tentativa de fazer uma colonização germânica
e, para tal, já haviam migrado levas de colonos. O Governo Imperial queria,
dessa maneira, retomar a imigração depois de alguns anos de interrupção.
Jacob
Pedro ficou desiludido, pois não tivera condições para manter unida a família. Os
filhos Pedro e Davi, fruto do primeiro casamento, tinham imigrado com destino
aos Estados Unidos da América e certamente jamais os veria. Compreendia, no
entanto, que os pais criam os filhos e, depois de adultos, eles tomam os próprios rumos, pois
cada qual precisa traçar seu destino e nenhum ser pode, e nem deve, tentar
viver a vida alheia. O casal Jacob Pedro e Elisabetha embarcaram, junto com os
filhos Jacob, Catharina, Eva, Christina e Elisabeth, para o desconhecido; os
filhos tinham respectivamente 23, 17, 15, 7 e 3 anos de idade. Doeu-lhes
abandonar a pátria, terra dos ancestrais, que tinham sido, em tempos remotos,
conquistados pelos bárbaros ao Império Romano. Os Lang tinham criado raízes,
pois foram, em inúmeras oportunidades, convocados para defendê-la dos invasores
franceses. Lembravam-se, de viva memória, das invasões napoleônicas, que tantas
vidas, estragos e miséria causaram. As tropas francesas arrasaram casas e campos
e nem a igrejinha da aldeia de Riesweiler, pouparam, pois incendiaram-na. Os registros
comunitários, guardados na igreja, acabaram consumidos; valiosas informações
familiares terminaram perdidas à eternidade. As guerras trouxeram o caos e o
constante proselitismo entre protestantes e católicos. Sobrou, à família, duas
opções: continuar na miséria ou imigrar. Optou-se pela aventura, pois não
adiantaria ficarem presos a sentimentos no momento que a miséria instalara-se. Os
instintos de sobrevivência, nestas circunstâncias, falam mais altos, pois
defuntos não possuem serventia.
Crédito da imagem: http://estudoscristaos.com/2008/08/pensamento-cristo-onde-est-sua-f.html