Um certo cidadão,
criado nas colônias, da herança familiar, em terras, fez sua chácara. Um
punhado, de poucos hectares, edificou um espaço de lazer e labuta ocasional. “O
pão de cada dia”, como funcionário duma empresa, ganhava no trabalho urbano. Os
familiares, educados na cidade, pouco interesse demonstravam pelo legado.
O proprietário, filho
de colonos e criado nas colônias, mantinha algumas criações e plantações. Incluía-se,
entre as diversidades, animais de montaria, excepcionais árvores de
ornamentação, moradia confortável, raivosas colmeias de africanas, formidável
pomar, magníficas trilhas...
Uma consideração
especial ligava-se ao açude. Este embelezava o cenário dos fundos das
edificações. O chimarrão, em meio a uma aconchegante sombra, via-se degustado.
Os olhos, no ínterim, viam-se deslumbrados com a agitação dos cardumes. Outros
bichos silvestres, como maçaricos e patos, complementava o espetáculo da
natureza. A água, como reservatório natural, deixava o ambiente refrescado e
úmido. O líquido, no subsolo, mantinha o nível do lençol freático elevado. As
plantas, em função da umidade, mantinham-se esbeltas e exuberantes.
Os peixes, como carpa
capins, jundiás, prateadas e traíras, cresciam deveras. Uns, com o trato diário
de ração, passavam dos bons quilos. Os menores, em semanas, prometiam crescer
mais umas boas gramas. O almejado esvaziamento do açude, à família, era
anunciada aos dias próximos a Páscoa. Poderia-se degustar o sabor da autoprodução
da carne da Semana Santa. Esta certamente parecia ter um “gosto ou sabor aprimorado/melhorado”.
A surpresa maior,
anterior ao esvaziamento, adveio numa certa ocasião. Alguns malandros, na
surdina da calada da noite, anteciparam-se na colheita/festa. Estes, num roubo escamoteado
de malandragem, fizeram algum arrastão. As águas conheceram a limpeza da
presença de peixes. Alguma rede, certamente com malha fina, limpou o criatório.
Quê raiva!
O dono, muito
decepcionado e irritado, fazia ideia dos autores, porém não podia
acusar/provar. Aquela frustração e perda de investimento e tempo. Os espertos,
em meio às ceias, certamente ainda lembraram-se e riram-se da dedicação e
trabalho alheio. A história da criação familiar de peixes precisou ser
reavaliada e repensada. Repetiu-se a triste sina com a história de criatórios
de peixes em propriedades minifundiárias de subsistência familiar.
Os investimentos em criatórios de açudes, nas chácaras e
propriedades coloniais, tornaram-se motivos de aborrecimentos e perdas
monetárias. A pilhagem e safadeza, de maneira geral, encontra-se impregnada no
gênero humano. Certas brincadeiras e malandragens não passam de pretexto para
excepcionais pilhagens e roubos. A impunidade, nos atos ilícitos, desestimula
investimentos e melhorias assim como atiça a ousadia e petulância alheia.
Guido Lang
“Singelas
Histórias do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem:http://caminhadasecologicasrj.wordpress.com/2012/01/16/sobre-a-trilha-do-acude-do-camorim/