Uma família, durante uns
bons anos, lavrou e capinou determinada área. Uma realidade rotineira antes do
advento dos herbicidas e tratores (plantio direto). A prática agrícola/rural,
na época, mostrava-se comum nas plantações. Desconhecia-se a comodidade das
capinas mecânicas. As lavouras, à sobrevivência familiar, ganhavam uma gama de
culturas. O lema consistia em produzir para não precisar comprar.
O inço, numa certa altura,
obrigava a tomar medidas de extermínio/capina. A concorrência exagerada, entre
culturas e daninhas, obrigava um combate acirrado caso contrário o insucesso
encontrava-se implementado na roça. A família, pai, mãe e filhos, viam-se
capinando em meio ao sol inclemente. Uma parada momentânea, no horário da água
ou lanche debaixo duma sombra, entendia-se como refresco.
Um local, numa certa
altura dos trabalhos, chamou atenção entre os capinadores. Um lugarzinho úmido
em meio ao ambiente geral seco. Algum descuido, nas ocasiões anteriores,
levara-os a desperceber o fato. Procuraram, em meio a localização exata,
cavocar o manancial. Adveio a surpresa: algum filete d’água brotava do interior
da terra.
O filete levou a
admiração! Abriu-se um reservatório e tornou-se filão. Passou-se, ao seu
redor, cultivar culturas próprias aos ambientes úmidos. Vislumbrou-se
oportunidades às bananeiras, chuchus, inhames... Plantou-se as culturas e algum
esterco viu-se acrescido. Magníficos plantas brotaram daquele solo e os frutos,
em meses, deram os ares da sua agradável graça. A abundância adveio enobrecer o
consumo (familiar e animal). Alguns produtos, como cortesia/escambo, viam-se
doados a parentes e vizinhos. Novas espécies, em função da umidade, advieram
como fauna e flora. Instalou-se um micro-ambiente próprio.
O exemplo retrata a velha
lógica. A necessidade de vislumbrar oportunidades (diante das situações
adversas). Cada espaço tem seus dilemas e utilidades. O tesouro precisa ser
vislumbrado, explorado e cuidado. O idêntico aplica-se aos dons e vocações.
Estas, estando adormecidas, igualam-se ao manancial. Afloram, nalgum momento
inesperado, com a idade e oportunidade. Os dons adormecidos/hibernados,
inúmeros e variados, “merecem as devidas atenções e investimentos com vistas de
produzir abençoados frutos”. Vislumbremos nossas dádivas e horizontes para
cultivar as plantas do espírito!
A grandiosidade dos dons
conhece-se nos relacionamentos familiares e comunitários. Quem de nós não
ostenta dons e segredos íntimos? Alguma brincadeira ou passatempo, em momentos
oportunos, torna-se a essência dos negócios. O sucesso da sobrevivência
reside no conciliar das necessidades com os dons.
Guido Lang
Livro “História das
Colônias”
(Literatura Colonial
Teuto-brasileira)