Centenária árvore perdida entre
matos e potreiros tu ostentas uma formosura ímpar! Mostra-te uma relíquia em
meio à localidade, que nos abunda de plantas. Abrigo seguro de inúmeras aves e parasitas,
quando folhas, galhos e ramos oferecem um esconderijo excepcional. Assemelha-se a
sentinela do espaço, quando, nas décadas de colonização, visualizaste acontecimentos
ímpares.
Guabiroba centenária! Vistes antes
de 1868 os índios guaianazes/caingangues abrigarem-se em tuas sombras.
Apreciaste as feras do mato no contexto da várzea. Homens e estranhos, da
distante Europa Central e velhas colônias de São Leopoldo, incursionaram pelo
teu refúgio milenar da Floresta Subtropical Pluvial. Enxergaste estes abrindo
picadas e medindo lotes; achegaram-se famílias e ceifaram tuas co-irmãs.
Viste-te, pela sorte da ocasionalidade e graças divinas, poupada do extermínio,
quando a floresta cedeu espaço a potreiros e roças. Os currais de gado e
porcos, bichos estranhos na América, ocuparam o ambiente, quando das tuas frutas
saborearam um gosto agradável. Pedreiras, nas tuas cercanias, foram exploradas,
no que cercados (muros de pedra), como estranhas “lombrigas”, cortaram e
delimitaram o cenário. A colonização avançou, o progresso chegou e advieram
desentendimentos.
Os maragatos (adeptos do
federalismo), entre 1893 e 1895, procuraram tuas sombras, quando, “frutos da
rapinagem” (roubos) abateram animais nas tuas proximidades. Colonos e pica-paus (adeptos
do republicanismo) enxotaram-nos e a aparente normalidade retornou as paragens.
O gado, por decênios, pastou tranquilo, todavia adveio a derrocada do
minifúndio diversificado de subsistência. O comércio de madeira e indústria de
carvão veio trazer a ganância monetária, quando madeira de lei, nas cercanias,
viu-se extraída. Os temores do corte sucederam-se, mas “um anjo protetor”
novamente salvou-te do infortúnio. Um novo dono comprou a área e a edificação
de açudes sucedeu-se; eucaliptos introduzidos como cultura reflorestada
rivalizaram com a tua opulência. Estes parecem esconder parte do teu esplendor,
que, no entanto, não abafa os nobres dons.
Continua esbelta e protegida!
Seguirás reinando por anos como exemplar ímpar da espécie e fornecendo
milagrosas sementes à preservação da espécie. Os novos donos admiram-te e respeitam
tua exuberância. Rogo ao piedoso Deus que continua como símbolo do patrimônio
ambiental-florestal!
Observação: A
planta situa-se no lote 28, margem esquerda, da Picada Boa Vista (atual Boa
Vista Fundos/Teutônia/RS).
Guido Lang
Livro “Histórias das Colônias”
Crédito da imagem: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/gabiroba/gabiroba.php