O beltrano e fulano,
muito amigos e parceiros no local de trabalho, mantinham uma mania. O primeiro,
em inúmeras oportunidade excepcionais, pagava cerveja ao fulano. Este
ostentava-se aficionado bebedor da “cervejinha estupidamente gelada”. A amizade,
ao longo dos anos, mantinha-se em altas considerações e parcerias.
Os dois, numa certa ocasião,
foram almoçar num restaurante. O beltrano convidou a parceria! Serviram-se e
foi pedido, pelo garçom, sobre o consumo de refrigerantes. O beltrano pediu uma
garrafa. O garçom, largando o pedido na mesa, perguntou: “- Para quem eu marco?”
O pedidor, num dom de brincadeira, disse: “- Marca para os dois! Uma metade
para cada qual!” O fulano, por causa de um real, não aceitou de maneira nenhuma.
Este, muito menos, externou alguma justificativa. O primeiro, embora o consumo
em parceria, acertou o devido.
O simples ato abriu-lhe
os olhos. A amizade consistia em “dois pesos e duas medidas!” O cidadão, no ato
de pedir, mostra-se rápido e, no instante de retribuir gentilezas, resoluto. A amizade
continuou nisso porém nunca mais de pagar alguma “cortesia da casa”. O modesto
real, na prática, tornou-se princípio da economia de muitos outros.
As pessoas, nas
convivências diárias, testam-se continuamente. Os indivíduos, nos atos
singelos, externam suas atitudes e crenças. As entrelinhas proporcionam os
momentos mais propícios à avaliação. O beltrano, fulano e sicrano, nestes
instantes, carecem de esconder suas manias e princípios. Os humanos, em função
do dinheiro, mudam de atitude e fisionomia. “Cada macaco no seu galho”
ostenta-se o melhor procedimento. Uns, na sua ingenuidade, pensam ter muitos amigos.
Estes, de maneira geral, não passam de meros conhecidos. Ao melhor amigo da
gente necessariamente não lhe somos a melhor preferência (outrém é sua
parceria).
As pessoas, nos ambientes sociais, carecem de maiores
amigos; possuem, na prática, um punhado de conhecidos e interesseiros. O
indivíduo, numa necessidade extrema, conta costumeiramente mais com os
estranhos do que realmente com os amigos. Certas realidades levam bom tempo
para serem decifradas e entendidas. Amigos verdadeiros, no final das contas,
são os familiares (a mãe e o pai).
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano Urbano”
Crédito da imagem: http://gilbertolouco.blogspot.com.br/2012/06/um-restaurante.html