Uns profissionais
cedo reencontram-se nos eventos comunitários. Os jantar bailes, no momento, são
os principais eventos nas localidades (junto às programações do esporte amador
e encontros de corais). Afluem forasteiros e moradores das diversas e inúmeras comunidades.
Verifica-se, na prática, uma espécie de troca de cortesias. As diretorias/sócios
visitam as promoções alheias e, na data da local (na sua sociedade), recebem
membros das entidades visitadas. Uma forma de intercâmbio e lazer com vistas de
ostentar momentos comemorativos e fugir dos ambientes maçantes da rotina.
Oportunidade ímpar de rever conhecidos, conversar com gente diversa, angariar
dividendos...
Um advogado, um corredor e um funcionário
(policial) reencontraram-se num evento desses. Procurou-se, como velhos
conhecidos, rememorar experiências e vivências da infância e adolescência. As
conversas, a exemplo, versaram sobre caçadas, invasão de roças (a cata de melancias),
pescarias, treinos esportivos, travessuras de bailes, artimanhas escolares...
Assuntos e gargalhadas, depois de uns bons anos (sem maiores contatos), não
faltaram. As convivências e necessidades, nestes anos todos, tinham ensinado lições
aos cidadãos. A migração campo-cidade levara a novos conhecimentos e
experiências assim como negócios e profissões.
A conversação, num
determinado momento, encaminhara-se a falar do contexto social (das
atualidades). Assuntos como bandidagem, oscilações econômicas, político-partidária,
violência no trânsito... Dificuldades e problemas, como desafios existenciais,
não faltariam no cotidiano da vida (de ninguém). Cada qual explanou histórias e
preocupações. O advogado referiu-se aos interesses e incompreensões humanas. O
corredor aos aparentes problemas insolúveis nos cortiços e periferias urbanas.
O policial da ousadia da bandidagem e confusões de leis. As profissões, nas
suas diversas esferas e funções, administravam problemas. A experiência, no cotidiano
da convivência, tinha-os transformados “em macacos vacinados diante da astúcia
alheia”. As informações privilegiadas, acumuladas ao longo das jornadas, tornara-os
excepcionais especialistas/profissionais, portanto, dignos das melhores renumerações.
Um quarto elemento,
modesto agricultor e ouvinte das conversas, mostrou-se bastante inibido e
tímido. Ele, como outrora colega de infância, manteve-se firme no grupo. Este,
numa altura, explanou sua opinião (na sua tradicional franqueza germânica) diante
dos “ditos doutores das universidades”. Procurou, na sua conclusão das
conversas, falar: “- Vocês a cada noite precisam rezar um bom e piedoso Pai
Nosso! Agradecer ao Todo Poderoso em função de não terminar com as brigas, carências,
desperdícios, desavenças, intrigas!... Vivem dos ingênuos e trouxas desde mundo!
Uns querem mostrar os seus direitos e recorrem a Justiça. Outros edificam mansões
para serem escravos da sua manutenção! Alguns desonestos e malandros precisam
de leis e mais leis, porém nada cumprem a contento!”...
Os parceiros arregalaram
os olhos e sorriram diante da esdrúxula e franca colocação, porém certeira
afirmativa. A aparente bonança advinha da burrice, desorganização, idiotice, malandragem...
Um ônus deveras pesado à sociedade produtiva e os descasos com os próprios
bolsos. Nada disso seria necessário caso houvesse o bom senso e o espírito
cristão. Se o amor ao próximo, pregado pelos ditos cristãos, realmente fosse
vivenciado. Haveria daí os problemas sérios da falta de empregos!
A verdade mostra-se uma pérola, porém poucos têm o bom
senso de dizê-la (nos momentos oportunos). A bonança, de muitos, tem elementos
escusos de arrecadação. Nunca é demais ouvir aquilo quem nem sempre agrada a
contento. Aquela realidade: arruma uma coisa e desarruma a outra.
Guido
Lang
Livro
“Histórias das Colônias”
(Literatura
Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://blogpastoraanavirginia.blogspot.com.br/2012/07/nao-tema-luz-nasce-nas-trevas.html