Um
modesto cidadão, para ganhar a vida, labutava pesado na construção civil. O
trabalho braçal, em meio ao sol inclemente, mostrava a dificuldade de angariar
os dividendos. A paixão, para safar-se do rigor e ostentar algum
lazer, consistia em jogar um baralho. A preferência era o pôquer
(embora jogava-se também bife, canastra e escova).
“As
turminha dos mui amigos”, nos armazéns, bodegas e vendas, não faltavam no meio
comunitário. Os parceiros, num pré-combinado (no horário e dia tal),
consistiam em jogar muitas rodadas de baralho/carta. Outros dias da semana, mal
aparecia alguma nuvem no céu, entendia-se como tempo chuvoso (próprio
para fazer mais algumas rodadas). Os companheiros, numa esperteza ímpar,
conheciam detalhes das inúmeras e muitas cartadas. A pérola relacionava-se
a postura do pacato cidadão.
Este,
na maioria das oportunidades, perdia grandes somas nos jogos. A contabilidade,
no final, fazia-se de forma informal e mental nos cálculos. Uns comentavam
as perdas e outros os eventuais ganhos. Outros escondiam os números do
balanço. A coisa ficava nisso e cada qual, em seguida, retomava seus afazeres e
obrigações. O camarada, no prejuízo precisava trabalhar pesado para
repôr as perdas. Outros momentos, bastante esporádicos, ganhava no páreo.
Ele,
com o dinheiro auferido, procurava pagar um bom e saboroso churrasco (aos
amigos e parceiros de jogo). Os perdedores, do seu dinheiro, podia
auferir um agradável cardápio/festa (regada a abundância de carnes, cervejas e
novas rodadas). A contrapartida, nos ganhos alheios, não ocorria e os sortudos
ostentavam a maior indiferença.
A
lição, na burrice, trouxe amargas consequências. O cidadão cedo quebrou nas
finanças pessoais. As dívidas viram-se acumulados. Os empréstimos foram
solicitados. Os calotes efetuados nos credores. A família entrou em
dificuldades e desentendimentos. Os parceiros sumiram como amigos e
companheiros. Uma brincadeira e passatempo, nos primeiros momentos, tornaram-se
outro acirrado vício. Quem pensa auferir lucros com baralho ostenta-se muito
equivocado!
O indivíduo pode ser ingênuo, porém não pode exagerar na dose. Certos
amigos assemelham-se a especiais inimigos. A pessoa, com o excesso de vícios
(fumo, bebida, jogo e sexo) não tem como acumular e prosperar. Certos lazeres e
prazeres unicamente enriquecem os donos das bancas. Existe gente para tudo
neste mundo (com exceção daqueles que dispensam comida boa e dinheiro
fácil). Difícil acumular dividendos com atividades improdutivas!
Guido Lang
Crédito da imagem: reporterdecristo.com