Um pacato colono,
como marca registrada, mantinha a acirrada curiosidade. Ele, como agricultor,
adorava alguma conversação e novidade. Este, para tal finalidade, possuía um infindável
tempo. O trabalho, na agricultura familiar de subsistência, poderia esperar (na
proporção de haver oportunidades de boas e interessantes conversas e diálogos).
Os acontecimentos
comunitários, como momentos de convivência, não deixavam de passar em branco. Estes,
para não desperdiçar os rumos dos acontecimentos, ganhavam uma atenção e
dedicação especial. A despreocupação, em termos gerais (com a propriedade),
levaram-no a ser um modesto morador. Uma vida familiar singela e sem maiores
luxos. O acúmulo de sobras foi inexpressivo (nas várias décadas de existência).
Um determinado
encontro de cooperativados, na entidade comunitária local, ocorreu num certo
dia. A conversa informal, antes e após a reunião, sucedeu-se entre os vários
participantes. Os assuntos versados, de maneira geral, eram os mais
diversificados. As criações e plantações, como produtores rurais, ganhavam a
tônica das atenções e preferências. Os colonos-associados, aqui e acolá, relataram
suas experiências e vivências.
O curioso, num
determinado instante, conversou com o presidente da cooperativa. Este, como chefe
maior e líder regional, era “aquele que fazia acontecer/chover”. O rural, como
de práxis, queria satisfazer mais uma dessas suas ímpares curiosidades. Este,
como velho amigo e conhecido, perguntou: “- Fulano de tal! Como se explica o
fato? O teu irmão trabalha como produtor rural. Este, apesar da dedicação e trabalho,
convive com as constantes dificuldades financeiras. O dinheiro auferido mal dá
para viver! Ele, nesses anos todos, judiou-se e não acumulou nada de expressivo.
A realidade econômica, como irmão/mano, contrasta com o senhor. As pessoas
falam que você é um homem muito influente e rico!”
O camarada presidente,
na sua maneira de ser curto e preciso (na tradicional franqueza), deu uma leve
gargalhada e suspirou fundo. Este, sem floreios e rodeios, explicou: “- Esta situação
é fácil de compreender e entender! O meu irmão, como homem da terra, costuma
labutar com uma junta de animais. Eu, como administrador e contador, trabalho
com mais de dois mil bois! A acentuada diferença nos números resulta no acúmulo
do numerário financeiro!”
O ouvinte ficou assombrado
e estarrecido. Ele, como os muitos moradores associados, faziam parte dessa boiada/manada.
A acentuada diferença, no acúmulo de sobras entre as partes, era a comprovação
dos fatos. A sabedoria consiste: quem trabalha, de forma animal e braçal, não
tem maior tempo de pensar em ganhar dinheiro. O segredo monetário não está na
produção dos artigos e sim na intermediação das mercadorias. As diferenças econômicas,
entre governados e governantes, cedo salta aos olhos (como diferenças de classe/entre
ter e não ter).
O excesso de curiosidade expõem os autores ao ridículo.
As perguntas direcionadas aos espertos ainda não custam; as verdades (relativas)
porém nem sempre são relatadas. Poucos são aqueles que conseguem conviver com
as dúvidas. Umas boas respostas assumem valores de umas valiosas pérolas.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: http://agroinformacao.blogspot.com.br