Foto: Jacobina Mentz Maurer
Os diversos voluntários do Ferrabraz,
apesar da mal sucedida incursão, foram primordiais para o sucesso militar.
Os
incêndios dos Muckers, em diversas localidades, despertaram a ira da colonada,
que sentiu-se insegura diante dos trágicos acontecimentos. Estes procuraram
socorro nas autoridades constituídas, que mobilizaram forças militares e
policiais com vistas de atacar os insubordinados do Ferrabraz. Os ataques
receberam todo o apoio e orientação dos adversários dos Muckers, que também
organizaram forças de combate. O êxito militar custou a ser concretizado,
quando, em tentativas anteriores, não se conseguiu chegar ao reduto dos
sectários da Jacobina Mentz e do João Jorge Maurer. Os colonos, em função da
demora ao ataque do exército, efetuaram uma incursão militar, no dia 26 de
julho de 1874, para combater os seguidores da seita.
Inúmeros
patriarcas, em função dos iminentes perigos, afluíam as redondezas de Campo Bom/RS
com vistas de auxiliar as tropas do Coronel Genuíno Olímpio Sampaio e
posteriormente do Major Francisco Clementino de Santiago Dantas. As terras
campobonenses foram utilizadas como acampamento; atendiam, no local, os
feridos, efetuava-se a retirada das tropas e planejava-se as ações militares.
Os combatentes voluntários, estimados em redor os 300 homens e oriundos de
membros das diversas famílias lusas e teuto-brasileiras, afluíam dos mais diversos
rincões de Sapiranga/RS. Os lugarejos, de maior fornecimento de elementos, eram
Campo Bom, Lomba Grande, Sapiranga, Dois irmãos, Linha Nova, Mundo Novo
(Taquara), São Leopoldo... Os comentários, da época, relacionaram-se também a
presença de muitos aventureiros, que, a todo custo, ‘’almejavam colocar a mão
no cobiçado tesouro dos Muckers’’.
Alguns
membros da tropa inclusive tinham experiência militar; tinham participado das
guerras européias, conflito no Prata, Revolução Farroupilha, Guerra do Paraguai...
Outros mantinham habilidade com o manejo das armas em função das caçadas e
incursões contra os nativos. A maioria, com extrema afinidade com o terreno,
conhecia atalhos e caminhos, que eram desconhecidos aos combatentes
governamentais. As suas indicações e orientações eram primordiais com o
objetivo de instruir as táticas militares empregadas. A vigília de caminhos e
prédios residenciais, tinha sido outra incumbência, quando inexistia a presença
das tropas. Estes voluntários, nos dias anteriores aos combates, pareciam
ostentar uma aparente desorganização; os membros agiam a belo prazer.
O
sub-delegado Daniel Kolling, de Dois Irmãos, deu-lhe uma ideia de ação. As
investidas militares pareciam desanimadas e ineficientes diante das duas
dezenas de combatentes Muckers. Estes pareciam ostentar maior astúcia e
organização; escondiam-se em meio aos troncos e trincheiras do Ferrabraz. Os
atacantes, em duas a três frentes, pareciam um alvo fácil, quando eram abatidos
e feridos. A colonada, exímia conhecedora da área e das estratégias dos
adversários, resolveu, sob pedido ao comandante Tenente Coronel Augusto César,
efetuar uma empreitada. Esta, sob pronto de vista militar, parecia satisfazer
aos militares, que consideravam o conflito, em boa dose, ‘’uma guerra de
estrangeiros em solo pátrio’’. A alemoada precisaria chegar a um contento em
meio as apuradas incompreensões e ódios fraticidas.
O
ataque coordenado por Kolling e na retaguarda com uma turma de praça,
concretizou-se no dia 26 de julho de 1874, quando aproximados 50 colonos empunharam
armas. Estes, divididos em três colunas incursionaram, ‘’aos trancos e
barrancos’’, ao território inimigo. A cautela, em meio à marcha, foi imensa com
vistas de surpreender a cidadela da Jacobina; foram, num piscar de olhos,
surpreendidos por infernal volume de projéteis. A coluna procura avançar em
meio ao tiroteio, enquanto as duas outras (colunas) não chegaram. Alguns
voluntários acabaram atingidos, quando começaram a tombar os primeiros feridos
e mortos. A alternativa consistiu em retroceder com vistas de não sofrer uma
derrota fragorosa. Pode-se, desta forma, conhecer a agilidade e espírito
guerreiro dos Muckers (de humildes colonos a temidos combatentes). Estes, entrincheirados
no Ferrabraz, encontravam-se isolados e perseguidos como assassinos. O
resultado, da frustrada incursão, foram inúmeros feridos de ambos os lados e
quatro mortos. Os vitimados, com sua façanha imortalizados no Monumentos às
Vitimas dos Mucker (no Cemitério de Amaral Ribeiro).
Os
diversos Voluntários do Ferrabraz, apesar da mal sucedida incursão, foram
primordiais para o sucesso militar. As informações dadas definiram as
estratégias das ações bélicas. Este acontecimento sangrento jamais pode ser
apagado na memória dos diversos envolvidos, quando o solo sapiranguense foi
manchado por sangue de irmãos.
(Fonte: Autor Guido Lang, Revista Pauta
nº 31, Ano III, Abril/1997, pág.13)
Crédito da imagem: http://www.domaracional.com.br/Muckers.htm