A tradição oral ainda faz esparsas
referências a uma entidade informal que procurava sem fins lucrativos o
enobrecimento da cultura colonial. Refiro-me a sociedade de leitura existente
entre colonos adeptos das letras, para intercambiar/trocar livros, no qual os
rurais de várias localidades tivessem acesso periódico a obras raras. As publicações,
nos anos de 1930 até 1960, mantinham-se artefatos escassos e onerosos, quando
alguns adeptos constituíram sociedade.
A sociedade de leitura mantinha um
acervo restrito de obras, que, depois de dias ou semanas, pré-combinados,
viam-se periodicamente trocados entre os membros. Algum encarregado, como
exemplo algum professor comunitário, enchia “o saco atravessado”, quando tomava
o rumo da estrada geral e residências. Os leitores membros devolviam a obra
cedida, quando, em seguida, poderiam escolher outra. Possuía-se um prazo
determinado “à degustação das letras”, quando, em seguida, o volume retornava
ao rodízio. O leitor sabia da necessidade de ter lido naquele prazo
determinado, quando, no período chuvoso, finais de semana ou no contexto da
lamparina da noite, divertia-se com as informações.
Os principais adeptos/associados
eram os comerciantes, religiosos, professores e colonos esclarecidos, que
constituíam-se na elite intelectual das colônias (formavam a principal opinião
comunitária). Os livros viam-se carimbados com a entidade, que, como exemplo,
“Sociedade de Leitura Teutônia Sul” (sede na Linha Germano/Estrela/RS – anos
1950 a 1960). A sede mantinha-se nalgum sociedade escolar, recreativa ou de
membro responsável. Podia-se nas entrelinhas conhecer a influência dos livres-
pensadores (maçons), quando auxiliavam na doação de volumes para “difundir as
luzes”. As parcas empresas poderiam fazer doações, quando bibliotecas públicas
escolares era ”coisa de cidade grande e estabelecimentos tradicionais de
ensino.”
O conteúdo das publicações ostenta
diversidade, porém mantinha-se a preferência por temas regionais. Cita-se,
entre outras, polemicas dos Mückers, bugres, guerras mundiais, avanços
científicos... Livros com larga procura, relaciona-se “As Vítimas do Bugre” do
padre Gansweit, “Os Mückers” do padre Ambrósio Schupp S. J., “O Episódio do
Ferrabraz (Os Mückers)” de Leopoldo Petry, almanaques do Correio do Povo,
anuário evangélico... Curiosidade: a maioria da leitura mantinha-se em alemão,
que era o idioma dominante.
Os registros históricos como
apontamentos das colônias desconhecem maiores estudos destas excepcionais
entidades, que prestaram inestimáveis serviços de esclarecimento à evolução
comunitária. As entidades de leitura foram outra organização social, no qual
moradores tiveram encontrar uma solução para uma deficiência de recursos e
ausência do poder público. Elas perderam expressão com a constituição de
bibliotecas públicas e o perecimento de velhas estirpes, quando os novos
tiveram outras opções de lazer e prioridades.
Guido Lang
Edição virtual
Livro “Histórias das Colônias”
Crédito da imagem: http://leituradeconjunturas.blogspot.com.br/2012/04/onde-estao.html