As abelhas
híbridas africanas recém tinham-se instalado na localidade (Boa Vista
Fundos-Teutônia/RS), quando uma colmeia vigorosa habitava um tronco oco. Esta,
em poucas semanas, acumulara grande quantidade de mel, quando o produto exalava
um aroma ímpar. Os insetos, como invasores do espaço, mantinham-se deveras
agressivos, quando pouco tinham-se mesclado com as européias. O temor
instalou-se nas redondezas, no que os moradores, como apicultores tradicionais
e improvisados, mantiveram distância. Ouviram, nos anos de 1970, inúmeros
relatos de ataques, quando as notícias advinham pelas ondas radiofônicas.
Um certo morador, habitante de um
recanto do lugarejo, duvidou da ousadia da colméia. Dizia: “-Este fato inexiste
de não haver manejo a estes insetos! Eu faço o trabalho de encaixotar a
comunidade assim como extrair o mel!” O dono do lote deu-lhe autorização de
fazer a coleta, quando esperou um dia propício à atividade. Queria mostrar a
teimosia germânica de não fraquejar diante do dilema, “quanto maiores às
dúvidas, maior a satisfação de concretizar o duvidado”.
O colonial, auxiliado por um filho,
tomou mãos à obra. Procurou fazer uma excepcional fumaça no fumigador,
abrigar-se com vestimenta própria, afiar machado e serra manual, preparar
caixa... Iniciou-se, depois de andar uns bons metros nos trilhos de mato, os
trabalhos, quando abafou os insetos com intensa fumaça. Cortou-se parte do
tronco e deu-se umas machadadas! As abelhas advieram endemoniadas, no que pareciam
desafiar a “chaminé ambulante”. Estes abateram-se sobre os elementos... Caíam
no chão e atacavam! O colono conheceu a agressividade inimaginada destes
insetos, que, diante de uma maior desproteção, matavam com facilidade.
A persistência continuou para extrair
o mel e encaixotar a colméia. Localizou-se a rainha e colocou-a num quadrículo,
quando a comunidade viu-se inserida em um caixote. O bicharedo atacava, porém
conheceu a eficiência da teimosia teuto-brasileira. O apicultor nunca tinha
tomado tamanho número de ferroadas, quando chegaram às centenas. Realizou a
tarefa diante da admiração da vizinhança, no que não faltou vontade de correr e
safar-se do contexto. O empenhado, como palavra, manteve-se firme com vistas de
não cair na chacota.
Reza
a tradição: diga ao alemão que tal coisa não dá! Este, na proporção de aceitar
o desafio, faz acontecer diante das maiores agruras e empecilhos em função da
sua extrema teimosia.
Guido Lang
Livro “História das Colônias”
(Literatura Colonial Teuto-Brasileira)
Crédito da imagem: http://ciencia.hsw.uol.com.br/abelha6.htm