Um jovem, advindo das
colônias, conheceu uma menina da cidade. Estes, em função da educação
diferenciada, tiveram acentuadas diferenças culturais e filosóficas. Os coloniais,
diante dos modelos urbanos de existência, tem poucas chances de estabelecer relacionamentos
duradouros e íntimos. O modelo de sobrevivência, com a massiva labuta (bruta e
física), contrasta com a realidade do trabalho urbano (das tarefas mais leves e
intelectualizadas).
Um jovem e uma moça,
num destes bailes das colônias, dançaram umas e outras boas marcas. Os dois,
num acerto de habilidades, revelaram-se “belos arrasta pés ou excepcionais pés
de valsa”. A dança e a música, como diversão e passatempo, ostentava-se uma afeição
e paixão (como opção de lazer e prazer). Agrada aqui e acolá; carinho lá e cá
foram uma realidade entre a parceria. O fogo da paixão, no sabor da animação e
bebedeira, tomaram conta dos aparentes enamorados (“nesta história do fica/finca”).
O moço,
nos chega para cá e beijinhos prá lá, atiçou-se nos desejos íntimos. Este, numa
altura do embalo (duma marca romântica), desabafa: “- A minha espiga de milho
encontra-se bastante atiçada e irrequieta no interior da calça!” A jovem,
sentido a malícia das conversas e encostos, quis safar-se das intensões e pretensões amorosas.
O rapaz, numa dessas linguagens de metáfora, reforçou
o escamoteado pedido: “- Esta espiga precisa conhecer algum jeito
de ser debulhada nessa noite!” A moça, em meio a despretensão e
franqueza, rebateu: “- Esta debrulhação, no entanto, não será com minha máquina
de tirar grãos!”
Poucas e efetivas palavras abreviam uma porção de
ladainhas. As figuras de linguagem são uma forma de dizer muito em singelas
palavras. Uns relacionamentos, sem o correspondente fogo da paixão, não tem
maiores chances de êxito e satisfação. As meninas, nas colônias, são sementes preciosas
e raras. Quaisquer moças sentem-se como rainhas num conjunto de pretendentes.
As escolhas refinadas encontram-se difíceis em meio as escassas opções.
Guido Lang
“Singelas Histórias
do Cotidiano das Colônias”
Crédito da imagem: http://amicaphilosophiae.blogspot.com.br