A era dos açudes, nas propriedades coloniais,
começou com a introdução das retrós. As máquinas descobriram um filão econômico
(de serviços) na proporção de abrirem crateras.
Inúmeros lugares úmidos (olhos d’água), espalhados pelos lotes,
depararam-se com a criação de reservatórios.
O
fato criou uma novidade: o advento de microclimas no interior das localidades.
Os depósitos espalharam-se ao longo das baixadas e banhados. Tiveram uma função
de abastecer animais (sobretudo o gado nos potreiros); criar peixes ao consumo
familiar; complementar renda (com a comercialização de sobras); ornamentar e
umedecer ambientes; possibilitar irrigações... As reservas maiores adquiriram funções
de pesque-pague. Incentivos a mais ao turismo colonial (como opção de lazer
para forasteiros e naturais).
A
abundância de água, de forma silenciosa e progressiva, criou novidades com a
fauna e flora. Espécies exóticas, de
paragens distantes, foram achegando-se nestes espaços. Aves desconhecidas, aos ambientes locais, afluíram
em números reduzidos, porém cedo conheceram uma multiplicação e proliferação.
Estas, através “dum trabalho de semeadura”, trouxeram o embrião de vegetais diversos
(aos ambientes coloniais). As espécies, próprias aos ambientes úmidos, foram
trazidas através das fezes e sementes grudadas (nos pés)...
O
ímpar espetáculo, nos locais das ilhas artificiais, relaciona-se aos maçaricos.
A espécie, no alvorecer dos dias da primavera-verão, aflui às dezenas (com
razão de pernoitar nestes ambientes). Advém de lugares distantes e remotos em vôos
rasantes (a semelhança de avião a jato). Assentam-se em arbustos e árvores. A
algazarra toma conta do ambiente. Projetam-se possibilidades de ninhos. Chama
atenção, o cenário exclusivo, da natureza aos olhos dos expectadores. Criou-se,
através do acúmulo de água, mais outra maravilha colonial. Soma-se as belezas dos
cardumes, ares umedecidos (dos outrora ambientes secos), alaridos desconhecidos...
O homem, criando novas realidades de exploração
econômica, modifica ambientes e comportamentos. Água, em quaisquer espaços, mostra-se
razão de muita natureza. Quem não sonha em ter algum recanto próprio para
apreciar o espetáculo da vida e curtir a tranquilidade da existência?
Guido Lang
Livro "Histórias das Colônias"
(Literatura Colonial Teuto-brasileira)
Crédito da imagem: http://www.avescatarinenses.com.br/ave.php?id=245