Um certo forasteiro, das paragens das terras paraguaias, acabou em
meio a alemoada da Boa Vista/Estrela (atual Boa Vista/Teutônia/RS). Ele, em
momentos de convivência nas vendas das localidades, narrava histórias das suas
terras de origem.
Ele, em função do intercâmbio de
brasileiros e paraguaios na Guerra do Paraguai (1865-1870), acabou nas terras
da antiga Colônia Teutônia. Algumas famílias, com descendência Dickel e Lang,
foram, no início do século XX, adquirir terras nas confluências do rios Paraná e Paraguai. As carroças de
bois, numa jornada de mais de um mês de deslocamento, levaram as famílias ao país
platino. Constituíram-se umas sólidas colônias alemãs em Bela Vista e Obrigado/Itapuã.
O Pedro Paraguaio, alcunha deste (desconhece-se o nome original), fez o caminho
inverso e ficou, durante anos, como diarista e morador entre os locais
teutonienses.
Este, nalgumas oportunidades,
contava as histórias de pescarias no Rio Paraná e Paraguai. Falava dos
excepcionais peixes fisgados. Estes, em função do peso e tamanho, precisaram
ser arrastados, água afora, com burricos. Os moradores, através do esforço
humano, deparavam-se com imensas dificuldades. Apresentavam-se lisos e pesados.
Os locais mantiveram dificuldades em arrastá-los nos barrancos (de terra firme).
A solução, com cordas, foi apelar ao auxílio dos animais de carga.
Os moradores teutonienses,
distantes de maiores cursos fluviais de expressão, acharam-no “o maior
mentiroso nas circunvizinhanças”. Este, numa ocasião, adveio a perecer e
ficaram os relatos deste na memória colonial. Um clã, num encontro
internacional de família (Dickel), foi fazer visita aos parentes de sobrenome.
Uns participantes, de imediato, perguntaram sobre as histórias de pescarias.
Relataram o explanado do Pedro Paraguaio, quando, de imediato, confirmaram o relatado.
Alguém logo confirmou: “- Essa história de colocar burro para tirar peixe das águas
era fato corriqueiro. A gente ajudava nos tempos de guri! Peixes do tamanho da
semelhança de excepcionais porcos”. Os visitantes, apreciando o rio-mar do
encontro das águas do Paraná-Paraguai, não tiveram mais dúvidas. O Pedro
Paraguaio tinha contado a realidade dos fatos.
A verdade de uns pode parecer exagero aos olhos de outros. Viajar e
conferir os fatos mostra-se uma excelente escola. Nobres histórias sobrevivem à
ação do tempo.
Guido Lang
Livro “Histórias
das Colônias”
(Literatura
Colonial Teuto-brasileira)
Crédito de imagem: http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br/2010/11/sos-rio-paraguai-dia-do-rio-paraguai-14.html