Tivemos, nos dias 02
a 04 de fevereiro de 1997, a oportunidade de conhecer aspectos do Paraguai.
Viajamos pela região leste do país. Um espaço agrícola desenvolvido com
predomínio da soja. Esta área, na prática, é uma continuação da porção sudoeste
do Planalto Meridional Brasileiro. O cenário de terrenos ondulados e terra roxa
assemelha-se muitíssimo a realidade paranaense. A soja, nesta época do ano, forma
um cenário de tapete verde e ocupa dimensões vastas (a visão do viajante
rodoviário).
A cobertura verde
cobre os baixos planaltos. Estes, nalgumas décadas, eram tomadas pela selva ou
esporádicos cultivos de erva-mate e óleos vegetais. Estas culturas, em função
do baixo preço e dificuldades de colheita (mecânica), foram praticamente suprimidas.
As poucas lavouras, numa questão de anos, parecem também ceder espaço a planta
oleaginosa. Os resquícios da Floresta Pluvial Subtropical subsistem unicamente
nas áreas úmidas. Os locais, numa espécie de banhados, onde a mecanização
agrícola depara-se com dificuldades. Os baixos planaltos, na sua confluência,
unicamente mantém restos de floresta (como reservas dos biomas).
A visita
concentrou-se na parte sul do Paraguai. O território da junção do Rio Paraná
com o Paraguai. Esta área é ocupada por comunidades nipo-paraguaias,
teuto-paraguaias, teuto-brasileiras e naturais (mescla de índios com
espanhóis). Os japoneses, num empreendimento do governo nipônico, ocupam os
melhores solos. Estes localizam-se nos espaços mais elevados dos terrenos. As
famílias residem nos seus lotes de terras. Cultivam, paralelo a soja, alguma
erva-mate e “tum” (planta propícia para extração de óleo vegetal).
A criação de gado
encontra alguma expressão. Esta destina-se ao abate e produção de leite. Efetua-se
nos solos mais úmidos, no qual cultivou-se pastagens (permanentes). As culturas
de subsistências, como cana, cítricos, mandioca, milho, tabaco, ganham maior
importância nas terras dos “paraguaios” (nativos). As plantações, de
subsistência, localizam-se ao longo das estradas e terrenos interiores (menos
propícios a mecanização). Estas propriedades possuem dimensões diminutas (de
meio a dois hectares), que, na medida do interesse dos “forasteiros de
descendência asiática e europeia”, acabam comercializadas aos intrusos. Estes,
de preferência, desejam lotes uniformizados, que carecem de maiores empecilhos
às máquinas agrícolas.
A sociedade paraguaia
apresenta acentuados contrastes. Esta condição é comum nos países terceiro
mundistas. Os descendentes de asiáticos e europeus assumiram o poder econômico.
Estes concentram o maquinário e as terras. Estes compreendem-se “os
grandes invasores do Paraguai”, pois introduziram a agricultura de exportação
e modelo capitalista de exploração. Os plantadores dizem-se os principais
contribuintes e empreendedores do Estado Nacional. Este, na proporção da modernidade e problemas
nacionais, começa a elevar encargos e taxas.
Os guaranis, principal
nação nativa, viveriam nas reservas (próximas ao Rio Paraguai). Estes, nos
hábitos próprios, encontrar-se-iam em vias de extinguir-se (em função da
miscigenação). A sobrevivência adviria da prática de alguma agricultura de
subsistência. A comercialização da madeira-de-lei, das reservas, seria a
principal fonte de renda. Estes, conforme a versão corrente, seriam vistos
unicamente nas vésperas dos dias chuvosos. O período em que “colocariam os pés
nas estradas”.
Os paraguaios, mestiços
e naturais formam a esmagadora maioria da população. Esta sobrevive de pequenos
cultivos e empregam-se esporadicamente como assalariados/diaristas rurais. Eles
vivem espalhados ao longo das estradas e interiores (beira de estradas de chão
batido e lavouras). Habitam humildes residências (de chão batido e de madeira).
O conforto maior da inovação mostra-se a energia elétrica. Diversos moradores
possuem a rede próxima à moradia, porém carecem das instalações. Os ganhos
instáveis impossibilitaria custear a baixa taxa mensal.
Chama atenção que
coabitam certas desconfianças entre as diversas comunidades/etnias. Elas mantém
relações econômicas, no entanto, cada qual ostenta suas entidades recreativas e
sociais. Cada descendência é muitíssimo consciente dos seus costumes e
tradições. Os hábitos e a língua, dos seus ancestrais, mantêm-se ativa e
preservada.
O Paraguai é um
mercado livre às importações. O consumidor pode comprar objetos das mais
diversas procedências. Os mercados, espalhados ao longo dos escassos centros
urbanos, oferecem uma gama de artigos. O fato explica-se em função da escassa
industrialização. Esta restringe-se praticamente ao fabrico de produtos alimentares.
Os artigos brasileiros ganham muitíssima aceitação assim como os do sudeste
asiático. Os programas televisivos assistidos são os brasileiros. A telefonia
rural ou celular carece de uma maior difusão assim como as estradas
pavimentadas. Poucas estradas nacionais são asfaltadas. As secundárias são exclusivamente
de chão batido. Este fato obriga a importação dos potentes veículos japoneses.
Estes, em função da tração nas quatro rodas, andam em “quaisquer caminhos esburacados
e de roça”.
As fontes naturais e
poços artesianos predominam nas residências. O encanamento comunitário ou rede
pública encontra-se carente. As queixas, no momento, são muitas com o
neoliberalismo e o Mercosul, quando os preços da produção primária encontram-se
em franca derrocada. A população convive com uma superprodução de artigos, mas
depara-se com a ausência de recursos financeiros (ao consumo). As margens de lucro
tornam-se continuamente estreita, quando exige inovação dos produtores (com
vistas de diminuir custos).
Conhecer a nação
platina é uma opção interessante. Informa-nos da intensa agricultura comercial
da soja. Retrata facetas da internacionalização comercial. Ostenta acentuadas
diferenças culturais entre as comunidades... O camarada, na proporção de
viajar, valoriza mais o torrão brasileiro. Convive-se com maior conforto,
depara-se com possibilidades de emprego, obtém a harmonia étnica... A visita,
portanto, possibilitou conhecer outra realidade econômica-social. Abriu novos
horizontes de conhecimentos e experiências.
Fonte: Guido Lang. Jornal O Fato,
n°1115, dia 25.02.1997, pág. 02 (texto reescrito).
Crédito da imagem: http://www.agrocim.com.br/noticia/Soja-Paraguai-registra-nova-expansao-da-safra-por-conta-do-clima-favoravel.html